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terça-feira, 18 de novembro de 2014

"O plantador de naus a haver."










                     Fernando Pessoa (Pintura de Almada Negreiros - 1964)


D.Dinis

Na noite escreve um seu Cantar de Amigo
O plantador de naus a haver,
E ouve um silêncio múrmuro consigo:
É o rumor dos pinhais que, como um trigo
De Império, ondulam sem se poder ver.

Arroio, esse cantar, jovem e puro,
Busca o oceano por achar;
E a fala dos pinhais, marulho obscuro,
É o som presente desse mar futuro,
É a voz da terra ansiando pelo mar.

                                                        Fernando Pessoa



São bem conhecidos os "Cantares de Amigo" do Rei-Poeta, D. Dinis, 6º rei de Portugal (1279-1325) e que hoje, o meu neto João teve a arte de me fazer lembrar ao ler, meditativo, o laudatório poema de Fernando Pessoa, que conduziu o meu espírito para os poemas de D. Dinis.

O João, fez-me chegar esta bela poesia, que tem laivos de  aura de um estro medieval na forma e no conteúdo, tendo-a buscado entre as composições de Fernando Pessoa - que sonhou na sua obra MENSAGEM com o 5º Império civilizacional que caberia a Portugal - e neste poema evoca o Rei Lavrador, enquanto plantador das naus a haver, porquanto, ele sonhou, que um dia o grande mar dos monstros lendários havia de ser sulcado e vencido pelas naus destemidas do Infante, construídas com a madeira que ele mandou plantar nos terrenos arenosos de Leiria e ele, qual sentinela, via partir a partir do Promontório de Sagres.

Fernando Pessoa, visionário como foi em tantos aspectos da sua poesia esotérica, mais não fez que igualar no seu verso de artista singular D. Dinis, que antes dele, lhe ganhou na visão de um Portugal marinheiro que no oceano por achar, já se revia a arrostar com todos os Adamastores que foram surgindo, muito antes do que, no Cabo Bojador, ante o espanto de Bartolomeu Dias e o seu arrojo lhe havia de mostrar o caminho da India.

D. Dinis, é neste poema épico, invulgarmente homenageado por Fernando Pessoa no som presente dum mar que já havia, mas que, num futuro não muito longínquo, consentiu que a alma dos portugueses e a terra que pisavam, desde os tempos do ínclito Rei-Lavrador passou a ansiar pelo mar salgado que Pessoa havia de cantar na MENSAGEM, um livro de amor ao povo heróico de Portugal e que teve a génese em D. Dinis, o plantador das naus a haver.

Parabéns ao meu neto João, a quem se fica devendo este apontamento breve, mercê do poema que ele descobriu no espólio imenso do insigne Poeta que foi Fernando Pessoa, honra e glória de Portugal que jamais pode esquecer um dos maiores vultos da poesia nacional.



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