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sábado, 29 de novembro de 2014

A riqueza: um mal quando passa de meio a fim.



Imagem captada com a devida vénia de
www.dineroeinversiones.org


Para os católicos, os bens da terra são um meio, e o homem não só pode desejá-los enquanto meios, como também deve possui-los para manter o corpo e ajudar o espírito, como se depreende da leitura de S. Tomás de Aquino (Suma Teológica 2, 2 q. 83, art. 6), que nos dá com toda a autoridade que é reconhecida a este invulgar filósofo - na Igreja e fora dela - um conceito de peso que nos leva a concluir que a riqueza se torna um mal quando passa de meio a fim e absorve a actividade humana com prejuízo da prossecução dos fins eternos que estão sujeitos ao homem, para que ele possa usá-los de acordo com as suas necessidades, mas não para torná-los o seu fim.

No seu livro, CAPITALISMO, CATOLICISMO E PROTESTANTISMO, Amintore Fanfani, num dado ponto (pág. 101),  ao discernir sobre isto diz-nos o seguinte:

Intimamente ligada à ideia da riqueza como meio , acha-se a ideia da propriedade privada que, apesar de todos os católicos admitirem que a lei natural "determinavit in natura humana hoc, quod omnia essent communia" - ou seja, que ela (determinou que na natureza humana, que todas as coisas eram em comum) não é combatida, mas, pelo contrário, aceita por diversas razões - de acordo com a Suma Teológica 2, 2 q. 26, 66 arq. 2 e Leão XIII (Rerum Novarum, pág, 7 e seguintes), prossegue, dizendo, que o princípio de que "omnia communia sunt" (todas as coisas são mantidas em comum)  e a ideia da riqueza como meio, dão lugar a que se construa um conceito da propriedade privada muito temperado (...) para prosseguir, depois, perguntando:

Numa visão do mundo cujo centro é Deus, numa concepção da vida em que todas as coisas devem facilitar a ascensão do homem para Deus, é possível que os católicos admitam a defesa de um conceito de riqueza diferente? Se a natureza oferece as homens, neste desterro, uma escada ininterupta para subirem até Deus, podem os bens do mundo deixar de ser degraus dessa escada? (...)

Por conseguinte - afirma a seguir - até a riqueza é um dom de Deus, e daí que não seja condenável; mas não se deve procurá-la com tal intensidade que se esqueça a acumulação de tesouros no céu: importa andar com cuidado, porque " os cuidados do século e a sedução das riquezas afogam a palavra" , citando neste contexto o evangelista S. Mateus (6, 19) e (13, 22)


A grande valia deste lúcido livro de Amintore Fanfani é a demonstração - tal como é feita - entre o abismo que existe e faz fronteira entre o ideal católico e a conduta mercantilista dos agentes económicos e em geral, de toda a economia capitalista, que o autor, economista como era, não podia entender - não como o de retirar do capital os dividendos aceitáveis do ponto de vista social - mas fazer dele, como é feito, um meio de usura, tornando os homens que servem o capital sem rosto, apenas factores de trabalho, num tempo que devia ter para com o serviçal o respeito que lhe é devido.

Não se pode entender, por isso, que a economia desbragada que temos, advogue sem pejo a não intervenção reguladora do Estado, para impor o seu "liberalismo", cujo fim é a assunção da ruptura entre a religião e a vida, donde a passagem de S. Mateus acima aludida - como se fosse um ar sadio - serve, para além do valor social, humano e religioso que contém, para servir de travão a um certo destrambelhamento de que, hoje, como na época em que o livro foi escrito, a sociedade - agora mais globalizada - continua a ser enferma, quanto aos valores cristãos que, calculadamente, têm sido arredados das Constituições dos Países europeus.


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