Mais
que o peso da Cruz, começaram a pesar
os insultos da
multidão compactada em alas
à beira do
caminho para Te ver passar dobrado.
Relinchavam os
cavalos e troçavam de ti os cavaleiros...
e Tu seguias,
arrastando o madeiro
enquanto o sol
da tarde fazia reluzir as lorigas dos soldados
e punha a plebe
em delírio contra Ti,
rindo-se de
cada passo menos seguro que davas.
O primeiro
grito que havia ecoado nas escadas do Pretório,
sob as ameias
da Torre Antónia, crescia cada vez mais.
Era um grito de
raiva,
um grito
furioso contra Ti, contra o Deus que passava
coberto de
suor.
Das quelhas
surgiam multidões que se atropelavam...
era um mar de
gente!
E das janelas e
terraços caíam insultos e vaias,
enquanto Tu
seguias bem perto do cavalo do centurião
reluzente na
sua armadura e Tu, arquejante e insultado!
-Vejam
–dizia a turbamulta – o rei que esteve para se sentar
no trono de
David! Vejam como ele vai!...
E as mãos sujas
e os pescoços da populaça
esticavam-se
mais e mais e as risadas era açoites que sofrias,
muito mais que
o peso do madeiro.
Num dado
momento, cambaleaste.
Caíste a
seguir, sobre o pó e pedras da calçada...
Um grito torpe,
ébrio e descomunal
encheu o peito
de todos os que Te viram cair
e morder o pó
do chão.
Num certo dia,
entre os teus, havias dito:
Se alguém
quiser ser meu discípulo
renuncie a si
mesmo, tome a sua cruz e siga-me.
Naquele momento
olhaste em redor e daqueles
que haviam
ouvido estas palavras
nem um sequer,
viste perto de Ti, para Te ajudar
Olha, Senhor:
na minha
próxima queda, faz que eu tenha a Tua força
e me volte a
erguer
sem dar ouvidos
a quem se possa rir de mim.
Faz, Senhor,
que eu me levante sempre
e, sobretudo,
faz que nunca aconteça,
que por minha
culpa
haja alguém que
possa cair sob o peso dos seus problemas.
E faz, Senhor,
que eu nunca me
ria das quedas dos outros
para que no meu
rosto não haja nunca
traços daqueles
que se riram de Ti.
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