in. "Restos de Colecção" com a devida vénia
Este "brinquedo" real é uma peça linda da engenharia mecânica do homem, na harmonia das linhas e das peças que lhe deram "vida" a partir da fornalha ardente e do vapor produzido por ela, levando, por isso, o executivo - o maquinista - que lhe imprimia o movimento e o fogueiro que lhe dava o alimento em pasadas de carvão de que alimentava o bojo adente.
Desconheço se está no museu da antiga "CP", mas que merece estar, merece, como prova do que foram no meu tempo da juventude as velhas locomotivas que encheram de poesia os tempos em que sem desejos, ainda, dos famigerados TGV'S, os homens se contentavam - e alegravam - em ser transportados em carruagens de bancos de pau puxadas via fora por estes "brinquedos" reais que tive a graça de ver passar, com as bielas num vai-vem, fumegando vapor, enquanto os meus olhos as perdiam de vista.
Hoje, que no "comboio da vida" estas máquinas passam apenas na minha lembrança levando atrás de si "carruagens" de alguns sonhos perdidos e as novas máquinas não têm a poesia destes antigos "brinquedos", dou comigo a pensar em Fernando Pessoa e no seu "Comboio descendente" e vejo-me dentro dele, mas com saudades de não me ver puxado pela velha locomotiva da minha infância que foi uma realidade que me encheu os olhos e é mais um sonho que deixei para trás... perdido na distância...
Mas... cá vou, até Deus querer,
No comboio descendente
No comboio descendente
No comboio descendente
Vinha tudo à gargalhada,
Uns por verem rir os outros
E os outros sem ser por nada
No comboio descendente
De Queluz à Cruz Quebrada...
No comboio descendente
Vinham todos à janela.
Uns calados para os outros
E os outros a dar-lhes trela
No comboio descendente
Da Cruz Quebrada a Palmela...
No comboio descendente
Mas que grande reinação!
Uns dormindo, outros com sono,
E os outros nem sim nem não
No comboio descendente
De Palmela a Portimão...
Sem comentários:
Enviar um comentário