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quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Uma fábula moderna



A fábula do aluno 
que não sabia explicar as suas contas


Trata-se, efectivamente, de uma fábula moderna.

Havia um aluno importante - apadrinhado por uma parte grada da sociedade - que aspirava a mudar de classe, ou seja, em subir um degrau a mais para gáudio dos seus colegas de turma, seus incondicionais amigos e de outros mais velhos, mas o qual, por uma questão da matriz social em uso tinha de obedecer a um determinado professor que, embora, sensível aos seus desejos - aliás legítimos - para aquilatar da sua sabedoria entendeu a bem da decência moral da sua profissão que só poderia ajuizar depois de encarregar o aluno a um exercício de um dado trabalho de contas, entre elas a da aritmética dos números.

O aluno, educadamente, mas com algum cálculo mental à mistura acedeu de imediato com a promessa feita a si mesmo de pedir ajuda a outros, àqueles que soubessem mais que ele, o que não impediu o professor que de tal suspeitou, mas no entendimento que ninguém sabe de tudo e o pedir ajuda é meritório - apesar de lhe ter sido mais louvável que a resposta pertencesse à sabedoria pessoal do aluno que pretendia passar de classe - de lhe perguntar de vez em quando:

- Como vai isso?... como vão as tuas contas?

E. agora e logo, durante algum tempo, foi ouvindo a resposta seca e breve:

- Ainda é cedo... mas espere que no tempo devido apresentar-lhe-ei as minhas contas.

E assim aconteceu. 

O tempo chegou e o aluno apresentou ao professor um cardápio volumoso com todas as contas resolvidas. Instado para explicar - olhos nos olhos - como é que todos os resultados estavam certos, sustentando-os, tim, tim por tim tim, começou a embaraçar-se, reafirmando que tudo estava certo, mas...

O professor não gostou desta hesitação, sobretudo do modo como ele a deixou perceber, mas como se não estava no tempo em que um costume antigo mandava pregar meia dúzia de reguadas - o que é, convenhamos, é uma conquista civilizacional no tempo corrente - este, embora, tirado do sério ao ver o aluno a mostrar-lhe o livro das suas supostas certezas, não podendo seguir o método dos seus antigos colegas, de dedo em riste e em posição ameaçadora invectivou-o e de tal modo o fez que, ou ele explicava as contas, mostrando que as tinha compreendido e que o resultado conduziria àquele que era mostrado, ou então, não passava de classe.

Ao que parece, o aluno, limitou-se a efabular de novo - que era assim... mas ... pelo que a passagem de classe ficou adiada.

A fábula acaba neste ponto.

Como lição moral - algo que se deve retirar de todas as fábulas - é que, ou temos certezas dizendo como chegamos a elas ou, então, o que temos são estimativas, desejos e esperanças, coisas que honram mais quem assim procede - dizendo isto - do que aqueles que teimam em dizer que tudo vai bater certo, quando afinal, o que têm para mostrar são estimativas, desejos e esperanças.

Convenhamos nisto:  ter estas coisas como metas não fica mal a ninguém.

Provam que estamos a trabalhar e que só não erram aqueles que nunca arriscaram, porque o erro acontece de vários modos, enquanto ser correcto é possível apenas de um modo  - como disse Aristóteles - e o que se viu no aluno da fábula é que, ao dizer ao professor que tudo estava certo sem justificar a sua certeza, o ser correcto como devia ter sido com o professor foi um falhanço completo, se levarmos em linha de conta  o axioma do velho aluno de Platão.

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