O SONHO DO INFANTE
Pintura de José Malhoa
Passa, hoje, dia 4 de Março a data do nascimento do Infante D. Henrique, na cidade do Porto. Sobre ele, quatro séculos depois, disse Fernando Pessoa:
Deus quer, o homem sonha, a obra
nasce.
Deus quis que a terra fosse toda
uma,
Que o mar unisse, já não
separasse.
Sagrou-te, e foste desvendando a
espuma,
E a orla branca foi de ilha em
continente,
Clareou, correndo, até ao fim do
mundo,
E viu-se a terra inteira, de
repente,
Surgir, redonda, do azul
profundo.
Quem te sagrou criou-te
português.
Do mar e nós em ti nos deu
sinal.
Cumpriu-se o Mar, e o Império se
desfez.
Senhor, falta cumprir-se
Portugal!
Conforme Malhoa o viu sentado num dos rochedos de Sagres a olhar nas lonjuras o Mar distante e assim o retratou, cumpre-nos, hoje, olhar a figura deste homem e ao lembrar o que ele fez pela expansão de Portugal, render-lhe uma homenagem, num tempo em que o nosso inexistente Ministério da Cultura se esquece destas figuras, pois que se saiba, está a findar o dia e sobre a sua memória e tantas outras que como a dele tornou Portugal maior há a cortina do silêncio.
- Será por vergonha?
- Será por isso... por ele ter sido o "pai" do velho Império português?
- Será por isso... por a ele ter pertencido o acto colonizador de Portugal, que apenas cumpriu no seu tempo a gesta heróica da descoberta de novos mundos?
Fernando Pessoa, fiel ao homem nesta bela poesia, não deixou de lembrar que com ele "Cumpriu-se o Mar", e desfeito pelos ventos da História o Império que ele sonhou, quando tudo se podia ter congregado após a queda das terras que as suas caravelas e naus descobriram, faltaram em Portugal, homens da sua estirpe, porque este belo País está à espera dos que, um dia, o hão-de cumprir.
Não sabemos é quando... mas a profecia de Fernando Pessoa há-de cumprir-se num tempo futuro, quando uma nova geração não se envergonhe, como faz a actual de lembrar os seus heróis... e isso vai acontecer, quando de verdade, tivermos a galhardia de fazer da cultura portuguesa um meio de exaltação dos valores pátrios.
Acontecerá quando tivermos, a sério, um Ministério da Cultura... algo que nunca tivemos nesta nova e desmiolada República.
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