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segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Os perigos da democracia



 C. Lahr, no seu célebre “Manual de Filosofia” , Cap. VI, apresenta-nos duas vertentes da democracia, consubstanciadas nas suas vantagens e nos seus perigos.

Se nas vantagens nos assinala que ela concede aos governados a maior parte das liberdades que são compatíveis com a ordem pública (...)  e que,  pelo facto de não admitir nenhuma distinção entre os cidadãos, a não ser a que provém do mérito pessoal, a todos concede a possibilidade de desempenhar as mais altas funções, acrescentando, a seguir, que essa vantagem permite a cada um contribuir com o máximo do seu esforço para utilidade social.

O autor, cita a seguir, Aristóteles e um seu conceito democrático, quando disse que a forma democrática é a mais sólida de todas, porque nela domina a maioria, e a igualdade que se disfruta gera o amor de constituição, razão que levou o mundo moderno a assistir à queda das monarquias absolutas ou, das que, metendo-se nos novos tempos, deixaram  que imperasse o liberalismo e o parlamentarismo, adaptando-se ao sufrágio universal.
Contudo, ao fechar este capítulo, C. Lahr, não deixa de apontar e de nos chamar a atenção para os perigos da democracia, o que faz, dizendo que não basta decretar o sufrágio universal e conceder subitamente as liberdades para realizar de improviso obra perfeita. (...)
E fundamenta esta asserção em cinco pontos, dos quais tomamos, apenas, dois, como amostra que nos deve fazer pensar.

1 – No regime democrático em que todas as forças individuais se podem exercer sem obstáculos, e onde os meios de repressão são menos enérgicos, a desordem tem fácil entrada e o vício encontra as mais temíveis facilidades de expansão
2 – Por outra parte, a possibilidade que todos têm de chegar a exercer os cargos públicos traz consigo o perigo de abrir a porta às ambições menos justificadas. Em lugar dos mais capazes e dos mais dignos apresenta-se a multidão, sempre medíocre e pretensiosa. À força de se repetir que todos podem chegar a tudo, cada um acaba por se persuadir de que é efectivamente idóneo para todos os empregos e digno de todas as honras (...)

São, efectivamente, perigos e reais.
Portugal não foi e continua a não ser excepção e a nossa democracia bem precisa de repensar o caminho, porque se torna urgente que os mais capazes, de currículos profissionais e académicos irrepreensíveis se sintam atraídos pela coisa pública, ou continuaremos a promover os que pensam que podem chegar a tudo, com a agravante de se persuadirem de serem os melhores, sendo, apenas, os que se chegaram à frente pela força do voto, que os legitima, mas podendo não ser os mais capazes.
Até quando continuaremos com os mais dotados fora de cena, indiferentes aos assuntos da Rex Publica , que é Coisa de todos... Casa de todos... País de todos... e não, de alguns que até se tornam arrogantes, como se o Poder fosse eterno ou, eles mesmos se eternizassem na política?

Esta reflexão tem um sentido, porque a não ser assim, perdia-se o tempo.
O sentido é este: olhando a nossa jovem caminhada democrática começada com uma Revolução, imergiram quando o tempo o permitiu, alguns vultos de prestígio onde o povo se revia. Esta asserção, parece, consensual.
- E agora? O que aconteceu?
- Será que deixámos abrir a porta às ambições menos justificadas?
A ser assim, foi um erro, porque andamos a promover os que não mereciam.

A dúvida é se não nos dão hipóteses de o corrigir...

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