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quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

O caçador que foi caçado!



O experimentado economista Silva Lopes, na Nazaré 
deu tiros na caça - o Governo em funções - 
mas fez mais: caçou o caçador.

Acontece isto, muitas vezes, quando o caçador de deixa caçar.

Aconteceu isto com o PS, recentemente, nas suas primeiras Jornadas Parlamentares da actual sessão legislativa que tiveram lugar na Nazaré, o local escolhido para, em termos políticos e demagógicos - fazerem a similitude que existe entre as altas ondas naturais do mar da Nazaré, com as ondas, que também são altas, do descontentamento popular contra o actual Governo.
Mas, porque as "alturas" não são comparáveis, o que aconteceu foi um disparate quase infantil, cometido por homens inteligentes que a política cega, quando se dão ao trabalho de comparar o que é incomparável.

A abrir, Alberto Martins, disse logo: A onda da Nazaré é a onda de descontentamento que existe já nos portugueses face a este Governo e face a esta política.
Eis, aqui, o desconchavo da similitude a que aludimos.
Depois, acertou o passo e falou com imagens mais perfeitas, dizendo que as Jornadas ocorrem num período político singular em que o país está a terminar o programa de ajustamento económico e financeiro e apresentou o óbvio: Há em Portugal um crescente aumento do desemprego, da pobreza, da emigração e da desagregação social. Verifica-se também uma total ausência de perspectivas estratégicas para Portugal.

E isto, infelizmente, é verdade.

O que custa é não haver a humildade socialista de fazer "acto de contrição" dos erros que cometeram, recentemente, nos seis anos que governaram Portugal para não falar dos anteriores.
Foi preciso vir um dos convidados, o experiente e rotinado economista Silva Lopes, que sem deixar de criticar o Governo, veio dar-lhes um puxão de orelhas, apontando-lhes o dedo no dia 25 de Fevereiro de 2014 e fê-lo com dor para os seus espantados ouvintes, ao dizer que o secretário-geral do PS, António José Seguro deveria ter mais contenção ao pedir a restruturação da dívida tentando uma renegociação.
Reconhecendo que a projecção da dívida internacional é medonha, alertou para o facto de não ser esta a altura de estar a fazer a reestruturação. Ia fazer com que a nossa situação fosse ainda pior do que já é.

E houve mais puxões de orelhas, como o de se manifestar muito desiludido por entender mal feito o acordo que o PS votou a favor sobre a reforma do IRC: que era boa  para indivíduos com acções da EDP,  mas não para a economia. Só serve para fazer transferências de rendimentos para os que têm acções de companhias rentáveis, terminado, por criticar José Sócrates, lembrando os investimentos feitos no passado sem qualquer ganho para o país, deixando no ar as dívidas feitas, especialmente a partir de 2008, e ao atacar o actual sistema de pensões, manifestou pouca esperança numa inversão ao nível do combate aos interesse, mesmo com um executivo do PS.

Politicamente, o convidado foi incorrecto tendo em conta o que os convivas queriam ouvir, mas intelectualmente comportou-se com a compostura que devem ter os homens íntegros, desagradando, embora, aos que o queriam apenas centrado a zurzir no Governo e não no "impoluto" PS que de caçador - mas cheio de culpas que não reconhece -  passou a ser caçado!
Silva Lopes disse verdade e, às vezes, as verdades são duras, mas a grande lei da Democracia é esta e o PS conhece-a bem porque ajudou a fundá-la: não se pode aprisionar o pensamento!

E isto fez-me lembrar um tempo passado em que ia acontecia e de que é exemplar a quadra brejeira, que no romance "As Pupilas do Senhor Reitor", Júlio Dinis nos relata ao apresentar um zombeteiro campónio a cantar a Daniel uma quadra, a propósito das muitas atenções que ele dava à Clara mas sem ter êxitos aparentes, algo que lhe mereceu uma acerba crítica, advertindo-o de não mais lhe admitir uma cantiga semelhante.
Eis a quadra:
Caçador que vais à caça
Muito bem armado vais; 
Os olhos levas por armas
E em vez de tiros dás ais.

Voltando ao PS e às suas Jornadas Parlamentares, temos que:

1 - A coutada da caça foi a Vila da Nazaré.
2 - A caça procurada foi: Passos Coelho.
3 - O caçador principal foi:  António José Seguro.
3 - O caçador que foi caçado: (o caçador principal, António José Seguro).

Voltando à quadra de Júlio Dinis - e aqui, julgamos fazer similitudes com algum sentido -  temos: 

1 - Que António José Seguro não foi, afinal, muito bem armado como deve ir um caçador que vai à caça.
2 - Que as armas que levou para a coutada da Nazaré eram, para além de outras, os seus olhos assestados em Silva Lopes - e, sobre isto, tiro-lhe o meu chapéu por deverem ser assim as nossa armas - só que os seus olhos erraram ao ver no reputado economista um aliado incondicional,mas o  tiro nem sempre deu certo no alvo... que se ficou a rir!
3 - Que, mercê dos seus olhos o terem enganado, os tiros que ele queria dar - alguns saíram de pólvora seca - e, por isso, em vez dos almejados tiros explosivos o que aconteceu foram ais... como diz a cantiga de Júlio Dinis.

Concluindo, diremos: hão-de acontecer sempre "ais" assim com todos aqueles que não põem a mão no peito e só vêem coisas mal feitas no parceiro do lado, não cumprindo com eles o ensinamento bíblico de não se ver nos nossos olhos a trave que transportamos,  mas ver - e bem - o argueiro nos olhos dos outros.
Ou seja, falta o espírito alto de Deus em muitos campos - não só políticos -  e impera, por demais, o espírito rasteiro de um Mundo que se quer regido, apenas, pelas regras dos homens.


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