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quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

A palavra PÁTRIA fora do vocabulário!


O tempo abúlico que vivemos aboliu a palavra Pátria do vocabulário como se ela fosse uma velharia sem préstimo e, para vergonha dos sequazes  - onde se incluem tantos de nós - a Pátria foi fechada no fundo do baú de um esquecimento atroz que a todos nos devia envergonhar.
Exilamos a Pátria para o mundo estranho da poeira da História, sem cuidarmos que ela está viva, não se compreendendo o dislate que estamos cometendo, mantendo-a assim adormecida, esquecida e vilipendiada, parecendo que só o facto de  lhe pronunciarmos o nome nos envergonha e apouca .
O esquecimento, porém, não vem de agora, sejamos correctos.




Luis de Camões - o grande épico - disse-a alto e bom som e acabou os seus dias na miséria.

Esta é a ditosa pátria minha amada,
à qual se o Céu me dá que eu sem perigo
torne, com esta empresa já acabada,
acabe-se esta luz ali comigo.
Esta foi Lusitânia, derivada
de Luso ou Lisa, que de Baco antigo
filhos foram, parece, ou companheiros,
e nela então s íncolas primeiros.

Canto III - estância 21




Do mesmo modo - e embora lhe chamem o Imperador da Língua Portuguesa - disse-a arrebatadamente o Padre António Vieira e a Pátria persegui-o, não o tendo poupado ao vexame inquisitorial.




Se serviste a Pátria, e ela vos foi ingrata, vós fizestes o que devíeis, e ela o que costuma. Mas que paga maior para um coração honrado que ter feito o que devia? Quando fizestes o que devíeis, então vos pagastes.

in,art. 3º do  Sermão da Terceira Quarta-Feira da Quaresma", proferido na na Capela Real, ano 1669.






Guerra Junqueiro cantou-a no livro “Pátria” (1896) e foi ridicularizado, antes de ser glorificado com as honras de merecer figurar no Panteão Nacional.
O Poeta tinha razão
De um certo modo, guardadas as distâncias e as diferenças de regime, a Pátria continua  sem  independência económica, subalterno perante uma União Europeia dominada pelos países, com o nome subalternizado, quando mais que europeus, somos portugueses e, desse modo, mantêm-se a pergunta: para onde foi a consciência da Pátria e o orgulho de ser português que com alguma amargura Junqueiro nas “Anotações” que faz no fim do seu livro, declara:

Desde a crise do “ultimatum” inglês (…) resvala a Nação, dia a dia, ao letargo estúpido da indiferença. Estará morta? Estará cataléptica?






Leonardo Coimbra disse-lhe bem alto o nome da Pátria e não foi ouvido, a ponto das actuais gerações não saberem, sequer, a valia da  obra de quem foi uma das figuras mais gradas da Renascença Portuguesa - um movimento cultural nascido em 1912 - que no pós-República tinha subjacente um ideal nacionalista ligado, no plano literário e filosófico e a um sebastianismo quase messiânico.
Doutrinador do criacionismo - uma filosofia de liberdade que ia beber às infinitas fontes do pensamento - a Pátria nova nascida da Revolução encontrou nele um paladino acérrimo de que se deu conta a revista “ A Águia” (1910-1932).






A Pátria ergueu-a Fernando Pessoa nesse livro simbólico onde se misturam as imagens herméticas de fundo esotérico e todas mobilizadas para a assunção de um nacionalismo místico, nem sempre devidamente compreendido, na fusão épica e lírica que faz do Brasão, do Mar Português e do Encoberto a tripeça da heroicidade da raça, que não raro se funde com a epopeia camoniana, com a diferença de Pessoa lhe dar uma visão messiânica sobre o destino português, em que o rei vencido nos areais de Alcácer-Kibir havia de voltar para tirar Portugal da decadência e conduzi-lo à glória.

Referindo-se aos períodos da formação de Portugal, das grandes navegações, de D. Sebastião, o autor tenta celebrar a grandeza de seu país.

Ao lembrar Viriato, aparece desde logo, a Nação:

Se a alma que sente e faz conhece
Só porque lembra o que esqueceu,
Vivemos, raça, porque houvesse
Memória em nós do instinto teu.

Nação porque reincarnaste,
Povo porque ressuscitou
Ou tu, o de que eras a haste -
Assim se Portugal formou.

Teu ser é como aquela fria
Luz que precede a madrugada,
E é já o ir haver o dia
Na antemanhã, confuso nada.


22-1-1934

Mas é no "Monstrengo" que surge com todo o esplendor da alma do Poeta o poder da Pátria por detrás da resposta firme do destemido mareante ao ver-se confrontado com aquela figura aberrante que quer tolher-lhe o destino grandioso:


O mostrengo que está no fim do mar
Na noite de breu ergueu-se a voar;
À roda da nau voou trez vezes,
Voou trez vezes a chiar, E disse,
''Quem é que ousou entrar
Nas minhas cavernas que não desvendo,
Meus tectos negros do fim do mundo?''
E o homem do leme disse, tremendo,
''El-Rei D. João Segundo!''

''De quem são as velas onde me roço?
De quem são as quilhas que vejo e ouço?''
Disse o mostrengo, e rodou três vezes,
Três vezes rodou imundo e grosso,
''Quem vem poder o que só eu posso,
Que moro onde nunca ninguém me visse
E escorro os medos do mar sem fundo?''
E o homem do leme tremeu, e disse,
''El-Rei D. João Segundo!''

Três vezes do leme as mãos ergueu,
Três vezes ao leme as repreendeu,
E disse no fim de tremer três vezes,
''Aqui ao leme sou mais do que eu;
Sou um Povo que quer o mar que é teu;
E mais que o mostrengo, que me a alma teme
E roda nas trevas do fim do mundo,
Manda a vontade, que me ata ao leme,
De El-Rei D. João Segundo!''



Estes exemplos nos deviam bastar para não nos envergonharmos da Pátria que fomos - e somos! - porque ao ser das mais antigas com fronteiras consolidadas na Europa, este facto, de per si só, nos devia encher de orgulho e, de novo, nos havia de dar a força da raça para voltar a por a PÁTRIA portuguesa no vocabulário, onde parece, se perdeu, como o rei D. Sebastião que há-de voltar, porque não morreu de vez na alma de Portugal.

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1 comentário:

  1. Uma "patria" que so me deu miséria e guerra?
    Quem nao se sente, nao é filho de boa gente.

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