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terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

O vazio espiritual da Europa


Atribui-se a André Malraux este dito: O século XXI será religioso ou pura e simplesmente não será, e isto pressupõe que a velha Europa onde grassa, actualmente, um inquietante vazio espiritual, mercê de uma civilização racional mas pouco espiritual, que não está a dar ao homem razões de viver, leva-nos a concluir que este Continente que levou séculos a passar da Idade Média, o que originou foi que, alguns Países e, dentro deles, alguns movimentos de índole social - contrapondo-se à modorra que efectivamente existiu - aceleraram de tal modo o percurso que os valores antigos foram postos em causa ou, simplesmente, esquecidos, quando deviam ter sido preservados para além de todas as mudanças.

Assim aconteceu em Portugal.
Após a falta de vivência democrática durante muitos anos, determinadas liberdades foram entendidas como bens absolutos e esquecemo-nos que a vida social - onde o braço da espiritualidade não podia ter deixado de chegar - devia exigir o respeito e não o seu atropelo. 

Não podemos aceitar a falta da assunção de valores, porque é pela sua ausência que deixa de existir o que há de mais profundo no homem, passando a ser verdade - mesmo o que ultrapassa a sua finitude - o que ele assume como verdadeiro e é, quantas vezes, aquilo que mais lhe convém admitir, sem se dar conta do vazio em que, não raro, vive a sua moral racional, ao permitir como válidos caminhos culturais onde falta o Amor e a Justiça, que não podem existir na base de conceitos errados que causam a destruição do homem.

Não podemos aceitar que vivam só e de peito feito os filhos de Caim, pela subjugação de todos os filhos de Abel, porque a ser assim, a Europa ao ter deixado, conscientemente, de ser a construtora da verdade, está a calcar sobre si mesma a civilização do Amor, ao esquecer o espírito que vive no homem, a que Bertrand Russel chamou uma máquina estranha que pode realizar as combinações mais extraordinárias com os materiais que lhe são oferecidos, mas sem esses materiais do mundo exterior é impotente; (...) 
Por isso o homem cuja atenção se desvia para dentro de si nada encontra digno de observação, ao passo que o homem atento a tudo o que o rodeia pode encontrar em si próprio, nos raros momentos em que contempla a sua alma, um conjunto de elementos, os mais variados e interessantes, para serem examinados e reunidos em motivos belos ou instrutivos.
 in "A Conquista da Felicidade"

Que este profundo pensamento do filósofo ajude os homens desta velha Europa a não olharem, apenas, para o seu umbigo e passem a olhar para dentro da sua alma, onde se  esconde a verdade que é atropelada em cada dia e em cada Nação.

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