Aos materialistas custa a compreender o motivo que leva certos homens enraizados no espírito do Evangelho, ou simplesmente, arreigados no comezinho espírito terreno a guardarem um religioso respeito pelos seus bens.
Há quem julgue que eles procedem assim por teimosia, porque estando cegos pela sua ambição não são capazes se medir a profundidade espiritual que está patente no acto de salvaguardar os bens herdados, legados ou adquiridos e que constituem sempre vínculos de amor, uns a unir um tempo que passou e outros a testemunhar um tempo presente.
Esta história, bem medidos, tem dois milénios e cerca de mais duas centenas de anos.
Esta história, bem medidos, tem dois milénios e cerca de mais duas centenas de anos.
O rei de Samaria, Acab (875-853) e Nabot, dono de uma vinha em Jezrael, são dois protagonistas bíblicos que incarnam perfeitamente o que atrás se diz, constituindo as suas atitudes uma história exemplar.
A vinha de Nabot situava-se junto do palácio de Acab, sobre a qual o rei mantinha uma antiga cobiça desmesurada a que não eram estranhos os desejos da sua ímpia esposa Jezabel, que o corrompeu, a ponto de um dia ter levado Acab a interpelar Nabot com estes termos:
- Cede-me a tua vinha, a fim de que me sirva para fazer uma horta, pois fica junto da minha casa. Dar-te-ei em troca uma vinha melhor, ou se te convier, pagar-te-ei o seu valor em dinheiro. (1 Rs, 21,2)
Acab cometeu o erro comum que costuma haver com todos os mal prevenidos ou insolentes e que continua hoje, presente nos homens que julgam que tudo é possível comprar com o aceno do dinheiro, esquecendo-se - ou omitindo - que há valores inegociáveis e, esses, são, precisamente os valores engrandecidos pelo amor de quem os recebeu ou conquistou.
Nabot agiu, de imediato, em defesa desses valores, achando vil a proposta do rei, ripostando com azedume:
- Pelo Senhor! Seria um sacrilégio ceder-te a herança de meus pais! (1 Rs, 21, 3)
Pagou caro pela ousadia.
Vítima de uma cabala armada para o efeito é acusado de blasfémia contra Deus e contra o rei, não tradando a ser condenado a morrer apedrejado.
O rei Acab vingou-se, depois de ter arregimentado os verdugos, que infelizmente aparecem sempre, quer por medo, por dever de cega obediência ou outro motivo qualquer, pois existem - e por demais - os que se dispõem a servir o déspota em desfavor do íntegro.
Esta história, convém, não ser esquecida.
Velhinha de milénios, mostra bem como o homem, feito embora, à semelhança do Criador é capaz de se comportar como uma besta, se se deixa colocar ao serviço do génio do mal que anda por aí, à solta.
Transcorreu o tempo, mas não esqueçamos: a loucura de Acab impera ainda, e vive ao nosso lado nos homens àvidos de tudo poderem comprar, mesmo contra a vontade dos que não estão dispostos a satisfazer os seus caprichos.
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