Honra e Justiça a Cavaco Silva
Tanto quanto julgo saber, disse um dia Aníbal Cavaco Silva
que, “Não somos donos da terra, mas apenas os seus hóspedes transitórios”.
Frase sábia e bem demonstrativa da maturidade do homem que
mais tempo e com maior sucesso governou na história da democracia portuguesa.
Goste-se mais ou menos disso, esta é a realidade. A realidade pessoal e
política de um homem que ao contrário dos de hoje marcou a sua época. Daqui a
50 anos todos continuarão a saber quem foi Cavaco Silva. Por sua vez muitos dos
seus detratores, julgo nem virem a constar das notas de rodapé da história do
nosso país. Posto isto, sem querer desvirtuar o sentido da citada afirmação do
ex. Primeiro Ministro e Presidente da República não resisto ainda assim a
fazer-lhe uma adenda.
Cavaco Silva não foi dono da terra, foi também ele um
hóspede transitório da legitimação por sufrágio, mas uma coisa é certa, o que
nunca foi nem é transitório é o impacto que tudo quanto diga e faça tem nos
restantes atores políticos. Cavaco já não manda, mas como sempre ainda os mói.
O recalcamento de muitos, por verem nele, o que gostavam de ser ou ter sido e
não são, continua como sempre a fazê-los espumar de raiva. Mas terão de espumar
até que sejam atingidos por um qualquer esgotamento nervoso. Começa a ser, portanto,
a meu ver, ridícula a forma como todos “malham” em Cavaco sempre que este diz
alguma coisa. Escreveu um primeiro livro de memórias, o que a maior parte dos
políticos importantes fazem, caiu o Carmo e a Trindade com José Sócrates, entre
outros, em horário nobre, a lançar tiros de pólvora seca por todo e para todo o
lado.
Algum comentário que faça, surgem logo os arautos da verdade
ou os papagaios amestrados dizendo que com eles demonstra falta de sentido de
Estado. Pergunto: Qual é político que hoje o demonstra? Estimado Carlos César,
diga-me, é o Senhor? Se comenta algo sobre a postura da atual presidência é uma
deselegância para com o atual titular do cargo e os que já o foram. Pergunto de
novo: Os outros não o faziam? Mais: E porque não o devem poder fazer? E não
satisfeito ainda pergunto: Estou enganado ou Marcelo Rebelo de Sousa passou
anos e anos, semanalmente a fazê-lo e, agora, parece não lhe agradar que outros
o façam? Podem dizer. “Bem, mas o Marcelo aí não era Presidente”. Pois não! E
Cavaco também já não é! Chega desta palhaçada.
Cavaco Silva como qualquer outro político fez coisas boas e
menos boas, tomou decisões mais e menos acertadas, os seus últimos anos foram
de facto cinzentos, mas ainda assim um cinzento verdadeiro ao contrário do falso
cor de rosa com que muitos hoje pintam a cara e com ela aparecem em público.
Aníbal Cavaco Silva foi e continua a ser o político mais influente e com maior
poder formal e informal no país. Em quarenta e poucos anos de democracia,
destes, governou em vinte. Merece, portanto, respeito. Foi o único homem que
enquanto primeiro ministro fez obra e lançou o país para a frente. E não me
venham com o argumento de que “ah, obrigado, com o dinheiro que nessa altura
vinha lá de fora também eu.” Tretas! Depois disso veio na mesma e o descalabro
está à vista.
Transcrição “ipsis-verbis” e com a devida vénia de um texto de Rodrigo Alves Taxa,
in “Jornal i” de 26 de Outubro de 2018
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"20 valores com tendência para subir".
Era assim que se manifestava um saudoso professor de Português que eu tive, e que se manifestava sempre deste modo quando uma redacção lhe agradava.
Sendo, apenas, um modo de expressar a satisfação que tal leitura lhe dera como docente e leitor - sabia a turma - que o professor fazia desse hábito um incentivo ao grupo que lhe estava confiado, e que o aluno que lhe merecia aquele louvor iria ter boa nota.
Faço o mesmo a este texto de Rodrigo Alves Taxa, porquanto, subscrevo na íntegra tudo quanto diz, lamentando não ser eu o autor de tão asisadas palavras, na certeza que tenho que os maldizentes de Cavaco Silva - um homem que se fez a pulso - não sendo filho de gente rica e por isso não ter nascido "num berço de oiro", quando se escrever a História dos primeiros decénios da Democracia Portuguesa, o seu nome passadas as paixões políticas do tempo que passa, não vai ser esquecido.
"Honra e Justiça a Cavaco Silva".
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