Ao longo da vida, Miguel Torga - sabe só ele e Deus - quantas vezes terá sentido e pedido que a divindade se lhe mostrasse, dando-lhe motivos inequívocos para que o homem superior que desde a Natureza do meio natural, agreste e abandonado onde nasceu, se guindou a pulso, a meios académicos que lhe deram cultura e a sua formação em Medicina, entendesse sem dúvidas existenciais o Deus que tanto procurou, mas sem nunca o ter encontrado.
Miguel Torga era - convenhamos - um racionalista de coração puro e, como tal, nunca aceitou, porque a fé - essa adesão incondicional da alma a uma hipótese como sendo uma verdade sem qualquer tipo de prova ou critério objecivo de verificação, pela confiança numa ideia ou numa fonte transmissora - viveu arredia do homem puro que ele foi, interrogador e inteligente, mas sem lhe ter mostrado, como ele quis, que sendo Deus um Espírito intangível sem forma e sem visualidade, infinito e eterno, Criador e Preservador do Universo, Senhor de toda a Onisciência, quanto ao conhecimento global e Omnipotente quanto ao seu poder ilimitado que o faz estar presente em todos os lugares por onde passam todos os homens.
Por que faltou este entendimento ao ser superior que foi este ilustre transmontano, Miguel Torga?
Por que faltou este entendimento ao ser superior que foi este ilustre transmontano, Miguel Torga?
Porque - atrevo-me a responder, este "Apelo" - nome que ele deu ao poema e onde se vislumbra a sua ânsia da verdade inelutável - sabendo ele pela sua vastíssima cultura de qual não são estranhos os anos que ele viveu no Seminário de Lamego, bem sabia que o judaismo ao falar de Deus, dizia: "Eu sou o que Sou", como o Espírito de Deus se revelou a Moisés no Livro do Êxodo (3, 14) e, portanto, era um Ser incorpóreo que não podia entrar dentro dele se não fosse à luz da Fé.
E daí o verso interrogador que ele apresenta no poema: "Porque / não vens agora, que te quero / e adias esta urgência?"
E Deus, efectivamente, não veio a tempo para ele, que assim morreu com este "Apelo" .
Mas é por isso que eu tenho por Miguel Torga um carinho muito especial, porque cabouqueiro da verdade que foi, é um exemplo de honradez espiritual e intelectual que devia morar em todos os homens "de boa vontade", como é usual dizer-se, em que o seu panteísmo sem nunca lhe ter explicado que eventos como a Criação do Universo e o princípio da existência como provindos do Ser Supremo que ele na sua crença filosófica identificava com o Cosmos, foi uma barreira intelectual que ele não conseguiu ultrapassar.
É daí, proveio o seu amor à terra e ao seu aspecto telúrico - como era o espaço do local onde nasceu - onde ele viu sempre a Lei Natural espelhada na orografia rude, mas sem nunca ter visto nela o Deus presente, motivo e razão do seu "Apelo", este poema vivo, sentido e pleno de um sentido humano tão profundo que não pode deixar de nos seduzir e render a este Poeta de eleição um carinhoso aceno de amor humano.
É daí, proveio o seu amor à terra e ao seu aspecto telúrico - como era o espaço do local onde nasceu - onde ele viu sempre a Lei Natural espelhada na orografia rude, mas sem nunca ter visto nela o Deus presente, motivo e razão do seu "Apelo", este poema vivo, sentido e pleno de um sentido humano tão profundo que não pode deixar de nos seduzir e render a este Poeta de eleição um carinhoso aceno de amor humano.
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