DOIS HOMENS SUBIRAM AO TEMPLO
O publicano levava o coração à
boca,
um coração escondido que receia
a faca de ponta dos olhares,
a sua voz ressoa aquém
e o espírito de Deus volta a
comover-se
com o homem.
O fariseu reparte, num céu de
sombra
sinos angelicais, vai tocando a
sua vida
como no outono uma árvore
pela voz abaixo as folhas caem.
J.T. Parreira
É esta a parábola bíblica contada por S.Lucas (18, 10 -14):
Subiram dois homens ao templo para orar. Um era
fariseu; o outro, publicano. O fariseu, em pé, orava no seu interior desta
forma: Graças te dou, ó Deus, que não sou como os demais homens: ladrões,
injustos e adúlteros; nem como o publicano que está ali. Jejuo duas vezes na
semana e pago o dízimo de todos os meus lucros. O publicano, porém,
mantendo-se à distância, não ousava sequer levantar os olhos ao céu, mas batia
no peito, dizendo: Ó Deus, tem piedade de mim, que sou pecador!. Digo-vos:
este voltou para casa justificado, e não o outro. Pois todo o que se exaltar
será humilhado, e quem se humilhar será exaltado.
O autor do poema quando diz que "o publicano levava o coração à boca" como que "escondido" do peso e da vergonha das suas atitudes que nem sequer lhe davam força de olhar para cima, conclui que ele olhava "para aquém", ou seja para dentro dele arcando com o seu estado pecaminoso.
E no desenrolar do poema diz J.J. Parreira, que "o espírito de Deus volta a comover-se com o homem", o que não faz com o fariseu, cheio de si mesmo: "não sou como os demais homens (...) nem como o publicano que está ali" é, por causa destas farroncas e falta de respeito com o seu acidental companheiro de oração dentro do mesmo Templo, que o poeta diz que ele repartia "num céu de sombra" a sua desfaçatez, fazendo soar nos seus "sinos angelicais" - cheios de tons que o enchiam de vaidade e em que ia "tocando a sua vida" , mas de notas falsas, como se do cimo da árvore humana - que todos somos - a sua estivesse no outono e dela se desprendessem folhas sem vida, amarelecidas de uma vida egoísta que se comprazia de se olhar a si mesma e sempre pronta a apontar defeitos no outro.
Eis, porque, Jesus - como conclui S Lucas que O ouviu - diz que foi o publicano e não o fariseu é que voltou para sua casa justificado, tendo conseguido a paz, e sobre a qual Jesus conclui assim esta parábola: "Pois todo o que se exaltar será humilhado, e quem se humilhar será exaltado"
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