"Anjo" - Um poema de Sophia de Mello Breyner Andresen

Anjos, o que são?

Numa análise breve dizem os exegetas que "Deus criou os anjos para sua glória e serviço" e que, sendo eles espíritos perto do seu Criador, são superiores aos homens e possuidores de uma força mais poderosa, tendo como missão a glorificação de Deus por resplandescer  neles o brilho e as perfeições divinas, com a excepção dos "anjos maus" que se rebelaram contra o que seria a sua função natural, aderindo à corte de Satanás.

Não raro, ouvimos dizer que tal criatura tem um "espírito mau" por desejar, por inveja o nosso infortúnio e a nossa oposição a Deus.

O anjo apelidado de "cruel" e de que fala Sophia não era desses.

Desejando-lhe bem, era duro no combate, pois, muitas vezes para alcançarmos a paz do outro é necessário algum sofrimento a ponto de entendermos que o "outro" que nos repreende o faz por amor, pelo que a diferenciação entre os "anjos bons" e os "maus" exige de nós estudo e atenção como a Poetisa no-lo apresenta, a ponto de nos dizer que num dado momento o tal anjo "poisava a sua mão na minha mão" e se atentarmos, cuidadosamente, na última quadra o que encontramos é como se o "anjo bom" depois de todas as lutas sadias "enfim florisse" como aquele anjo que é assim descrito no Apocalipse (20, 1-2) do seguinte modo: 

«E vi descer do céu um anjo, que tinha a chave do abismo, e uma grande cadeia na sua mão. Ele prendeu o dragão, a antiga serpente, que é o Diabo e Satanás, e amarrou-o por mil anos.»