A ROMEIRA
Onde é que vais tão garrida,
Lenço azul, saia vermelha;
Pareces-me mais crescida
Ai, filha, fazes-me velha!
Mas... inda agora reparo,
Cordão novo e arrecadas!
Onde vais nesse preparo
E com estas madrugadas?
— Onde vou ? à romaria
Da Senhora da Bonança.
Querem ver que não sabia
Que era hoje? Ai que lembrança!
— Que queres tu, rapariga,
Se toda a minha canseira
É fiar a minha estriga
Ao canto desta lareira.
Ora o Senhor vá contigo.
— Fique em paz minha madrinha.
— A casa voltes sem perigo.
Olha lá, vem à noitinha!
— Ai venho, logo às trindades,
Que é que quer que eu lhe
— Como me levas saudades
Traz-me saudades em paga.
Pois trarei e até à vinda,
Adeus que há muito amanhece.
— Vai, que romeira tão linda
É que lá não aparece.
1857.
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Este poema de Júlio Dinis publicado na terceira parte do seu livro POESIAS é toda ele um retrato colorido do Minho do seu tempo - mas valha a verdade dizer que as romarias que ele conheceu continuam, ainda hoje, a ter um culto popular muito activo e prendado - como nos dá ideia esta romeira no diálogo travado com a sua madrinha que naquele dia se tinha esquecido do culto que o povo rendia à Senhora da Bonança.
- Onde vais? - pergunta ela, para receber como resposta, esta linda surpresa:
— Onde vou ? a romaria
Da Senhora da Bonança.
Querem ver que não sabia
Que era hoje? Ai que lembrança!
Este texto de versos de sete sílabas irrepreensivelmente rimadas é, pela sua beleza simples e pela forma viva do diálogo um marco da vida àlacre que fazia daquele dia de festa, um motivo de encanto popular, e que a pena de Júlio Dinis imortalizou ao dar-lhe a frescura em que a vivacidade da jovem contrasta admiravelmente com a quietude da anciã entretida a fiar a sua estriga, mas em cujas respostas existe o amor por aquela linda afilhada.
— Vai, que romeira tão linda
É que lá não aparece.
É um encanto a leitura deste texto poético sadio onde ressuma em todo o seu esplendor o Minho português com as suas romarias e, sobretudo, na parte profana pela garridice dos trajes das suas romeiras!
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