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terça-feira, 12 de julho de 2016

Um recado de Blaise Pascal para os ateus... e não só!


ARTIGO I
CONTRA A INDIFERENÇA DOS ATEUS

Saibam, ao menos, que religião combatem, antes de combatê-la. Se essa religião se gabasse de ter uma visão clara de Deus e de possuí-lo com clareza e sem véu, seria combatê-la dizer que não se vê nada, no mundo, que a mostre com tal evidência. Mas, como afirma, ao contrário, que os homens se acham nas trevas e afastados de Deus, que se oculta ao seu conhecimento, sendo mesmo esse Deus absconditus o nome com que se apresenta nas Escrituras, em suma, se trabalha igualmente para estabelecer duas coisas: que Deus estabeleceu na Igreja marcas sensíveis para ser reconhecido pelos que o procurarem sinceramente, e que, no entanto, as cobriu de tal forma que só será percebido pelos que o procurarem de todo o coração, que proveito podem eles tirar, quando, na negligência em que fazem profissão de estar procurando a verdade, exclamam não haver nada que a mostre, de vez que essa obscuridade em que se encontram e que objectam à Igreja não faz senão estabelecer uma das coisas que ela sustenta, sem tocar na outra, estabelecendo assim a sua doutrina, em lugar de arruma-la?

Para combatê-la, ser-lhes-ia preciso exclamar que fizeram todos os esforços em procura-la por toda parte, mesmo naquilo que a Igreja propõe com o fim de nela se instruírem, mas sem nenhuma satisfação. Se falassem do destino, combateriam, na verdade, uma das suas pretensões. Espero mostrar aqui, porém, que não há ninguém capaz de falar razoavelmente do destino. Ouso mesmo dizer que jamais alguém o fez. Sabe-se muito bem de que maneira agem os que têm esse intuito. Acreditam ter feito grandes esforços para instruir-se, por terem empregado algumas horas na leitura de um dos livros sagrados e por terem interrogado algum eclesiástico sobre as verdades da fé. Gabam-se, depois, de terem investigado em vão nos livros e entre os homens. Mas, na verdade, não posso deixar de lhes dizer o que frequentemente tenho dito: que essa negligência é inadmissível. Não se trata, no caso, do irreflectido interesse de um estranho, para assim proceder: trata-se de nós próprios e do nosso todo.
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Como são lapidares as primeiras palavras de Pascal dirigidas aos ateus: Saibam, ao menos, que religião combatem, antes de combatê-la, dando assim um exemplo de devia nortear, não só os ateus, mas todos os homens que, desabridamente, combatem sem saber a qualidade das armas do outros, fazendo-o, apenas, por um instinto malévolo que  os leva a contrariar crenças religiosas, saberes adquiridos das ciências e das artes, ou outras, mas sem cuidar se exibir na contradição que dão motivos suficientes de uma discussão elevada, como se impõe aos que contradizem só pelo facto de o fazer.

O texto de Blaise Pascal deste - Artigo I dos seus Pensamentos - é longo e, dele, só retiramos o que se captou para exemplo deste apontamento, mas pela sua clarividência bem merece ser lido na íntegra, porque assim o merece o eminente físico, matemático, filósofo e o teólogo que nesta área, também nos deixou um acerbo rico de humanidades que o seu jansenismo - apesar de ter sido mal recebido pela Igreja Católica do seu tempo - encheu de sentimentos morais e disciplinadores da sociedade onde se moveu a sua vida

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