Voz de Marisa
Do vale à montanha (título dado por Fernando Pessoa)
Cavaleiro Monge (título dado artisticamente)
Do vale à montanha,
Da montanha ao monte,
Cavalo de sombra,
Cavaleiro monge,
Por casas, por prados,
Por quinta e por fonte,
Caminhais aliados.
Do vale à montanha,
Da montanha ao monte,
Cavalo de sombra,
Cavaleiro monge,
Por penhascos pretos,
Atrás e defronte,
Caminhais secretos.
Do vale à montanha,
Da montanha ao monte,
Cavalo de sombra,
Cavaleiro monge,
Por plainos desertos
Sem ter horizontes,
Caminhais libertos.
Do vale à montanha,
Da montanha ao monte,
Cavalo de sombra,
Cavaleiro monge,
Por ínvios caminhos,
Por rios sem ponte,
Caminhais sozinhos.
Do vale à montanha,
Da montanha ao monte
Cavalo de sombra,
Cavaleiro monge,
Por quanto é sem fim,
Sem ninguém que o conte,
Caminhais em mim.
Fernando Pessoa
Fernando Pessoa
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Do Vale à Montanha - Cavaleiro Monge como diz o rótulo e que Marisa interpreta - faz parte dos poemas esotéricos escritos por Fernando Pessoa na fase tardia do seu afã poético, muito embora esta tendência religiosa-filosófica o tenha impressionado na sua juventude e feito dela alarde com o seu amigo Mário de Sá-Carneiro, a quem confidenciava a sua crença em "mundos superiores ao nosso e de habitantes desses mundos".
É, de facto, bem conhecida a sua teoria ocultista, pelo que este poema Do Vale à Montanha é, no seu esoterismo uma imagem de um monte terreno que se liga ao mundo divino em busca do acesso ao conhecimento proibido e vedado aos mortais, ou seja, a ânsia eterna do homem à ascensão do conhecimento absoluto.
Trata-se de uma metáfora.
O monte é um símbolo e a ascensão é outro tanto, onde o cavalo e o cavaleiro - sendo um só - caminham solitários, mas libertos.
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