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sábado, 1 de agosto de 2015

O antigo bucolismo da Várzea de Colares


Um recanto bucólico da antiga Várzea de Colares
Gravura publicada pela Revista "Occidente " 
de 1 de Novembro de 1878


Com a data de publicação de 1860, Inácio de Vilhena Barbosa publicou um livro intitulado: "As Cidades e Vilas da Monarquia Portuguesa que têm Brasão de Armas", cabendo no mesmo uma pitoresca descrição da vila de Colares que se transcreve com a grafia do tempo:

Nas faldas da serra de Cimtra, uma legua ao oeste da_ villa d'este nome, esté sentada a villa de Col- lares é sombra delrondosos arvoredos. Pela en-\ costa da serra sobranceira 5 povoaqio vio subindn algumas casas, quintas, e mattas de castanheiros. Inferior in villa estende-se um fertil valle, deno- minado a Varzea, todo cobertode pomares, coor- tado pelo rio das Magis, que vae desaguar no oceano d'ahi uma legua. E’ pois sobremodo amena ede- liciosa a situaqio de Collares. (...)


(...) 0 sitio chamado a Varzea é dos mais lindos e amenos dos arrabaldcs da villa. As agujas do rio das Maqis, represadasahi em uma ponte de pedra, deixarn gosar 0 prazer dc navegar-se em um pequeno barco, que ali ha para esse fim, pelo rio acima até certa distancia, sempre entre pomares, e debaixo de copado arvoredo. (...)  

A vila teve um antigo castelo do qual diz o autor que o senado da camara servia-se d’elle para dlversos usos do minlsterio público. Porém no tempo dos Filippes de Castella, D. Diniz de Mello e Castro, que fol bispo de Leiria, de Vizeu, e da Guarda, estabelecer n’esta villa asua residencia, pediu ealcanqoua posse do castello, que logo transformou em um palacio, jun- tando-lhe uma bella quinta, acmalmenle penan- centes a seus herdeiros. Desta fortaleza provavelmente procedem as armas da villa, que é um castello entre arvores.
Visconde de Juromenha

Antes, de Vilhena Barbosa, por altura de 1838, o Visconde de Juromenha no seu livro: "Cintra Pinturesca ou Memória Descriptiva da Villa de Cintra, Collares es eus arredires" ao falar da Várzea, faz do local esta descrição que se transcreve: “Summamente aprazivel he o sitio da Varzea, onde o rio tem huma ponte de cantaria, e se represam as aguas que servem para a rega dos pomares, e de agradavel recreio para aquelles que o navegam em hum pequeno batel, debaixo da sombra das arvores carregadas de pommos , os quaes hindo pelo rio abaixo, quando o rio era navegavel até ao mar, deram o nome á praia onde elle vai juntar a sua humilde veia com as encapelladas vagas do Occeano que se quebram nesta praia a que chamão das Maçans.”
                                                                                     

Local idílico, mantém ainda hoje o encanto do bucolismo doutras eras em que ao longo do rio das Maças o pequeno barco da gravura da gravura, com os seus passeantes emprestavam ao local a magia dos sítios encantados de Portugal, de que Colares era - e é - privilegiado.

Recordo-me dos meus tempos de juventude e do percurso romanesco do carro eléctrico que de Sintra rumava até à Praia das Maçãs, onde me refresquei muitas vezes da caloria que levava de Lisboa.

Por isso, este breve apontamento, se é grato  para a minha lembrança e se fica aqui como testemunho de um tempo feliz que as minhas idas a Colares eram um motivo de poesia, fica, também, como lembrança que, eventualmente, possa aferir dos sentimentos de velhos amigos meus e de outros que o não sendo, sentiram como eu, o bucolismo que emanava olorosamente das velhas árvores da Várzea de Colares e do ex-libris da Adega Regional de Colares, que me garantem ser a Adega Cooperativa mais antiga do País.


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