Basílica da Estela
Gravura publicada pela Revista "Occidente"
de 21 de Janeiro de 1886
A Revista "Occidente", depois de ter dado conta aos leitores da sua época que as a celebração das exéquias oficiais por alma de el-Rei D. Fernando (marido da Rainha D. Maria II), relata do seguinte modo este famoso monumento religioso, dos mais emblemáticos da cidade de Lisboa (de acordo com a grafia actual, anterior ao Acordo Ortográfico, que jamais utilizarei.):
O convento da Estrela, assim denominado por ser edificado no largo onde já existia o pequeno convento dedicado a Nossa Senhora da Estrela, hoje hospital militar, foi mandado construir pela rainha D. Maria I, com a dedicação de Basílica do Coração de Jesus, em cumprimento de um voto feito pela piedosa rainha, para que Deus lhe desse um sucessor à coroa.
O cumprimento desse voto custou a importante soma de 6:400 contos, que não se pode dizer em absoluto que foram mal empregados, visto que se tratava de levantar um templo à Divindade, pode-se contudo, afirmar, que a soma despendida está longe de corresponder à perfeição do edifício, que aliás é bem defeituoso e apoucado para fabrica tão dispendiosa.
Tanto se convenceu disso o seu próprio autor, Mateus Vicente, que morreu de desgosto antes do edifício se concluir.
A Mateus Vicente sucedeu na direcção da obra o major Reynaldo Manuel, ambos discípulos da Escola de Mafra.
O edifício ergue-se num dos pontos mais elevados de Lisboa, tendo na su frente o jardim público da Estrela. O seu aspecto exterior é majestoso, dando ideia de um vasto templo interior. Na frente do edifício estende-se um espaçoso adro com dois lanços de de degraus de pedra. Três portas de volta redonda dão entrada para o vestíbulo e outras duas, abertas uma de cada lado destas, dão serventia para o convento. Entre as três portas da entrada principal há, de cada lado, duas colunas com seus capitéis jónicos sustentando os pedestais de quatro grandes estátuas de pedra representando a Fé, a Adoração, a Liberdade e a Gratidão; em baixo e aos lados, em nichos vasados na parede há outras quatro estátuas representando Santos da Ordem de Santa Teresa, que era o Ordem do convento.
As duas torres que se erguem dos lados da frontaria são elegantes e custosamente arquitectadas como se pode ver pela gravura. Estas torres têm onze sinos e um grande relógio cujo sino pesa 4,125 kilogramas.
Na parte superior do edifício avulta o zimbório de forma circular, que é sem dúvida a peça mais bela deste monumento.
Este zimbório fica sobre o cruzeiro da Igreja e constitui a sua principal luz, porquanto as janelas da Igreja abertas por sobre as capelas laterais, pouca luz fornecem ao Templo, em consequência da enorme grossura das paredes do mesmo.
Pela parte interior do zimbório correm duas varandas em frente das duas ordens de janelas que o circundam, uma no primeiro corpo do zimbório e outra no segundo ou lanternim.
É fácil de calcuar o vasto panorama que destas janelas se avista porque além do zimbório estar a uma altura superior a 50 metrs do solo, acontece que este solo é, como já dissemos, um dos pontos mais altos de Lisboa.
Interiormente a Igreja é também rica de arquitectura, principiando pelo vestíbulo onde há mais estátuas de santos esculpidas em pedra; mas não é bela por estranhamente acanhada ao relação ao exterior e até desproporcionada na sua divisão, que forma uma cruz perfeita e por isso mesmo , muito estreita no corpo de Igreja e muito acanhadas, o cruzeiro e a capela-mór.
É toda de mármore, incluindo o tecto abobadado. Tem quatro altares por banda, fora os dos cruzeiro e capela-mór.
Dois formosos grupos de anjos cinzelados em mármore estão por sobre os altares do cruzeiro; um outro grupo também magnífico está por sobre o altar-mór.
Estas esculturas assim como as estátuas que estão no vestíbulo e frontaria, são obra do escultor Machado de Castro e seus discípulos.
Há cerca de quatro meses morreu a última freira que lá havia, e em cumprimento do decreto que extinguiu os ordens religiosas, foi o convento desocupado e o Estado tomou conta dele.
Não se sabe por enquanto que destino terá este monumento religioso, que é ao mesmo tempo um monumento nacional e que exprime o estado das artes portuguesas num determinado período, pois que tudo foi delineado e executado por artistas nacionais. Entretanto será pena, se no destino que o Governo lhe der, não levar em vista a sua conservação, como monumento nacional que é.
Na capela-mór do lado da epístola está metido em um arco da parede o mausoléu que guarda os restos mortais de D. Maria I, fundadora deste convento.
Fala-se aqui num acto de usurpação que o Estado fez deste e outros monumentos nacionais, mercê da lei iníqua de Joaquim António de Aguiar de 30 de Maio de 1834, que não só extinguiu todos os conventos, como mosteiros, colégios, hospícios e todas as casas das ordens religiosas regulares, com o confisco dos bens a favor da Fazenda Nacional.
O "mata-frades", acérrimo defendor do "Iluminismo" e maçon assumido, como refere o livro "Benfica Através dos Tempos" do Padre-Historiador, Álvaro Proença, na página 482 foi , contudo, membro da Irmandade do Santíssimo Sacramento da Paróquia de Nossa Senhora do Amparo, de Benfica - Lisboa - acrescentando o autor daquele livro que se viveu numa era de "mistura e confusão" com o Liberalismo maçónico triunfante.
Vale isto por dizer que o belo e característico monumento do campo da Estrela, não escapou à sanha confiscadora que tomou de assalto a Monarquia Constitucional, onde na confusão do tempo se misturaram ideais opostos - como os defendidos por Joaquim António de Aguiar a gerir os negócios do Estado, quando na vida civil se enquadrava com a Igreja - a quem usurpou as casas religiosas, tendo como fito e como diz o povo, viver "com Deus e com o Diabo", o que não deixa de ser uma incoerência inadmissível.
Tudo, porém, se aclarou com a devolução à Igreja - em épocas distintas - dos bens de que haviam sido esbulhadas, pelo que, se aproveitou à vaidade jacobina o que sucedeu em 1834, um outro tempo, mais tolerante - e menos "iluminado" - restituiu o que havia sido perdido, como aconteceu com este célebre e lindo edifício religioso num tempo que se foi eivado de algum poder temporal da Igreja - desmedido quanto à sua função religiosa - esta, mercê de homens ordenados e Papas mais comprometidos com os destinos sociais dos povos, encontraram maneira, como hoje acontece, de recolocar a Igreja no papel que lhe cabe de ser testemunha dos desígnios de Deus sobre o mundo criado.
As duas torres que se erguem dos lados da frontaria são elegantes e custosamente arquitectadas como se pode ver pela gravura. Estas torres têm onze sinos e um grande relógio cujo sino pesa 4,125 kilogramas.
Na parte superior do edifício avulta o zimbório de forma circular, que é sem dúvida a peça mais bela deste monumento.
Este zimbório fica sobre o cruzeiro da Igreja e constitui a sua principal luz, porquanto as janelas da Igreja abertas por sobre as capelas laterais, pouca luz fornecem ao Templo, em consequência da enorme grossura das paredes do mesmo.
Pela parte interior do zimbório correm duas varandas em frente das duas ordens de janelas que o circundam, uma no primeiro corpo do zimbório e outra no segundo ou lanternim.
É fácil de calcuar o vasto panorama que destas janelas se avista porque além do zimbório estar a uma altura superior a 50 metrs do solo, acontece que este solo é, como já dissemos, um dos pontos mais altos de Lisboa.
Interiormente a Igreja é também rica de arquitectura, principiando pelo vestíbulo onde há mais estátuas de santos esculpidas em pedra; mas não é bela por estranhamente acanhada ao relação ao exterior e até desproporcionada na sua divisão, que forma uma cruz perfeita e por isso mesmo , muito estreita no corpo de Igreja e muito acanhadas, o cruzeiro e a capela-mór.
É toda de mármore, incluindo o tecto abobadado. Tem quatro altares por banda, fora os dos cruzeiro e capela-mór.
Dois formosos grupos de anjos cinzelados em mármore estão por sobre os altares do cruzeiro; um outro grupo também magnífico está por sobre o altar-mór.
Estas esculturas assim como as estátuas que estão no vestíbulo e frontaria, são obra do escultor Machado de Castro e seus discípulos.
Há cerca de quatro meses morreu a última freira que lá havia, e em cumprimento do decreto que extinguiu os ordens religiosas, foi o convento desocupado e o Estado tomou conta dele.
Não se sabe por enquanto que destino terá este monumento religioso, que é ao mesmo tempo um monumento nacional e que exprime o estado das artes portuguesas num determinado período, pois que tudo foi delineado e executado por artistas nacionais. Entretanto será pena, se no destino que o Governo lhe der, não levar em vista a sua conservação, como monumento nacional que é.
Na capela-mór do lado da epístola está metido em um arco da parede o mausoléu que guarda os restos mortais de D. Maria I, fundadora deste convento.
Fala-se aqui num acto de usurpação que o Estado fez deste e outros monumentos nacionais, mercê da lei iníqua de Joaquim António de Aguiar de 30 de Maio de 1834, que não só extinguiu todos os conventos, como mosteiros, colégios, hospícios e todas as casas das ordens religiosas regulares, com o confisco dos bens a favor da Fazenda Nacional.
O "mata-frades", acérrimo defendor do "Iluminismo" e maçon assumido, como refere o livro "Benfica Através dos Tempos" do Padre-Historiador, Álvaro Proença, na página 482 foi , contudo, membro da Irmandade do Santíssimo Sacramento da Paróquia de Nossa Senhora do Amparo, de Benfica - Lisboa - acrescentando o autor daquele livro que se viveu numa era de "mistura e confusão" com o Liberalismo maçónico triunfante.
Vale isto por dizer que o belo e característico monumento do campo da Estrela, não escapou à sanha confiscadora que tomou de assalto a Monarquia Constitucional, onde na confusão do tempo se misturaram ideais opostos - como os defendidos por Joaquim António de Aguiar a gerir os negócios do Estado, quando na vida civil se enquadrava com a Igreja - a quem usurpou as casas religiosas, tendo como fito e como diz o povo, viver "com Deus e com o Diabo", o que não deixa de ser uma incoerência inadmissível.
Tudo, porém, se aclarou com a devolução à Igreja - em épocas distintas - dos bens de que haviam sido esbulhadas, pelo que, se aproveitou à vaidade jacobina o que sucedeu em 1834, um outro tempo, mais tolerante - e menos "iluminado" - restituiu o que havia sido perdido, como aconteceu com este célebre e lindo edifício religioso num tempo que se foi eivado de algum poder temporal da Igreja - desmedido quanto à sua função religiosa - esta, mercê de homens ordenados e Papas mais comprometidos com os destinos sociais dos povos, encontraram maneira, como hoje acontece, de recolocar a Igreja no papel que lhe cabe de ser testemunha dos desígnios de Deus sobre o mundo criado.
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