Engalanado a preceito, mas na singeleza pretendida, o amplo recinto fronteiro ao edifício da Liga de Melhoramentos adivinha a Festa de preceito de cariz eclesial, de mistura com os folguedos próprios que dão o ambiente profano à comemoração religiosa do patrono S. Tiago e de Nossa Senhora.
Tenho, hoje, uma imensa saudade da Festa antiga da minha aldeia serrana que foi, em tempos idos uma comemoração digna da celebração religiosa de S. Tiago Maior - O Orago da aldeia - e de Nossa Senhora do Desterro, advindo a minha saudade do seu preparo extremamente cuidadoso e do esmero processional que dando - como hoje - a volta à aldeia trazia para os alcantis dos montes circundantes forasteiros que se ajoelhavam ao ver passar a Procissão, enquanto os seus seguidores, no maior respeito entoavam cânticos de louvor nos intervalos da reza dos Mistérios do Terço, ou quando a Banda Filarmónica se não fazia ouvir.
Hoje, é verdade, a Procissão continua a fazer-se no mesmo percurso, mas algo se perdeu. Já não chegam os forasteiros das aldeias vizinhas e muitos dos seus naturais esquecem a antiga Festa que no tempo dos seus maiores constituiu um verdadeiro motivo agregador das famílias que à noite, ao som da guitarra enchiam de vida o terreiro da festa, entoando canções populares ou revendo-se nas quadras de sete sílabas de rimas perfeitas ou de pé quebrado.
Na minha aldeia o culto a Nossa Senhora do Desterro conheceu um impulso invulgar na primeira trintena de anos do século XX. Esteve na origem deste culto religioso as orações do povo elevadas a Nossa Senhora, pedindo-lhe que livrasse a aldeia de sofrer o horrível flagelo da “pneumónica” ou “gripe espanhola” aparecida a partir de Espanha (1918-19), o que veio a acontecer.
Hoje, é verdade, a Procissão continua a fazer-se no mesmo percurso, mas algo se perdeu. Já não chegam os forasteiros das aldeias vizinhas e muitos dos seus naturais esquecem a antiga Festa que no tempo dos seus maiores constituiu um verdadeiro motivo agregador das famílias que à noite, ao som da guitarra enchiam de vida o terreiro da festa, entoando canções populares ou revendo-se nas quadras de sete sílabas de rimas perfeitas ou de pé quebrado.
Na minha aldeia o culto a Nossa Senhora do Desterro conheceu um impulso invulgar na primeira trintena de anos do século XX. Esteve na origem deste culto religioso as orações do povo elevadas a Nossa Senhora, pedindo-lhe que livrasse a aldeia de sofrer o horrível flagelo da “pneumónica” ou “gripe espanhola” aparecida a partir de Espanha (1918-19), o que veio a acontecer.
Tal facto foi considerado uma atenção especial
de Nossa Senhora do Desterro, não tendo a terrível doença que matou cerca de
60.000 portugueses atingido mortalmente nenhum dos naturais da minha aldeia até ao ano
de 1925, quando se declarou erradicada a pandemia, assim considerada pelos
cerca de quarenta milhões de vítimas que causou nos países de origem, a Àsia, e
a seguir, na Europa, onde esta se propagou, assustadoramente, de país em país.
O povo crente viu neste sinal uma graça extraordinária de
Nossa Senhora do Desterro, advindo daí uma exaltação de fé profundamente
enraizada num culto de grande fervor mariano.
Com a localidade poupada ao morticínio - enquanto à sua
volta a norte e a sul o flagelo se mostrara em toda a sua crueza - o povo ao olhar para o interior da sua
Capela onde já existia a velha Imagem da Sagrada Família que demonstra a fuga
para o Egipto levando o Pai e a Mãe o Menino Jesus pela mão, num impulso de
grande e fervorosa piedade popular, cerca do ano 30, passou, para além
continuar a honrar o seu Santo Padroeiro, S. Tiago Maior no seu dia litúrgico, a honrar também, NOSSA SENHORA DO DESTERRO, a Santa
Mãe que para salvar a Família se desterrou nas terras estranhas do Egipto
inóspito, habitando durante sete anos uma localidade situada
junto ao delta do rio Nilo.
A Imagem da Sagrada Família da Capela da minha aldeia é uma
escultura expressiva, ricamente pintada que desde
então passou a ser festejada com a celebração de uma Festa particular
devidamente autorizada pela respectiva Diocese, onde a Procissão que percorre o
perímetro do povoado ganha um brilho que se coaduna com a fé dos seus naturais.
A eleição do mês de Agosto para a realização de Festa em
honra de Nossa Senhora do Desterro está intimamente ligada à grande Festa
litúrgica da Assunção da Virgem, que no calendário a Igreja Universal celebra a
15 de Agosto, tendo o povo feito o voto – que chegou até hoje - de
continuar a honrar a Mãe de Deus, fazendo recair a Festa local de Nossa
Senhora do Desterro durante o mesmo mês e em cada ano, como uma continuação da
grande Festa mariana do mês de Agosto, associando-se com o seu
voto piedoso o desterro no Egipto à Festa da Assunção de Nossa Senhora que constitui o glorioso passo final da sua vida santíssima.
Este é o sentido eclesial dado pelas gentes da minha aldeia à
Festa de Nossa Senhora do Desterro, nascido a partir do sentido secular da
defesa das vidas das gentes da aldeia, assim entendido e do mesmo modo
continuado pelo desfiar das gerações dos que continuam a pedir a bênção e a intercessão da Santa Mãe de Deus sob a invocação
de Nossa Senhora do Desterro.
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