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domingo, 2 de agosto de 2015

Um poema de Tomás Ribeiro (1832-1901) - A PORTUGAL


Casa de Tomás Ribeiro em Parada de Gonta
Gravura publicada pela Revista "Occidente" de 21 de Junho de 1887


A casa que aqui vemos reproduzida na gravura, onde nasceu o celebrado Poeta foi doada por ele para a instalação de uma Estação dos Correios, embora sempre lembrada como seu berço na Vida e nas Letras, porque Parada de Gonta (Tondela) sempre viveu no seu coração .
Homem ilustre e figura de proa na política do seu tempo, foi deputado pelo Partido Regenerador, e como ministro sobraçou as pastas da Marinha, do Ultramar, da Justiça - Tomás Ribeiro era formado em Direito pela Universidade de Coimbra - do Reino, da Indústria e das Obras Públicas, num espaço que mediou entre 1878 e 1891 em vários Governos da Monarquia Constitucional.

Dotou a sua terra de uma Escola Primária a que deu o nome do então Primeiro-Ministro Fontes Pereira de Melo, cabendo-lhe a tarefa de enriquecer Parada de Gonta com uma Estação de Caminhos de Ferro, tendo cabido a inauguração da Igreja Paroquial em 1894, na qualidade de Ministro das Obras públicas.

Com a aparição no dia 31 de Maio de 1822, numa gruta nas margens do rio Jamor, perto do chamado "Casal da Rocha" de uma imagem de Nossa Senhora - hoje conhecida por Nossa Senhora da Rocha, em Carnaxide - foi um dos maiores incentivadores do seu culto, tendo estimulado a construção do Santuário de Nossa Senhora da Rocha e de várias outras obras de benefício para a população local.

É o consagrado autor consagrado dos seguintes livros:
  • D. Jaime ou a dominação de Castela 1862
  • A Delfina do Mal (poesia) 1868
  • Sons que Passam (poesia) 1868
  • A Indiana (entreacto em verso) 1873
  • Vésperas 1880
  • Jornadas (dois volumes de narrativas de viagens pelo Oriente: 1.ª parte - Do Tejo ao Mandovi; 2.ª parte - Entre Palmeiras; 3.ª parte - Entre Primores) 1873
  • Dissonâncias 1890
  • História da Legislação Liberal Portuguesa (ensaio) 1891-1892
  • Empréstimo de D. Miguel (ensaio histórico) 1880
  • Carta de Alforria (poema em homenagem à Dom Pedro II, Imperador do Brasil)
  • O Mensageiro de Fez (poema de glorificação a Nossa Senhora de Carnaxide) 1900.

Desde 1982 - 150º aniversário do seu nascimento - que os seus restos mortais repousam na terra onde nasceu, a sua "Fresca Aldeia Formosa", como ele lhe chamou.

Deu a Portugal um título bem conhecido e que faz parte da gíria popular: "Jardim da Europa à beira mar plantado". Vamos encontrá-lo na sua poesia intitulado A PORTUGAL.


Meu Portugal, meu berço de inocente,
lisa estrada que andei débil infante,
variado jardim do adolescente,
meu laranjal em flor sempre odorante,
minha tarde de amor, meu dia ardente,
minha noite de estrelas rutilante,
meu vergado pomar d’um rico outono,
sê meu berço final no último sono!

Costumei-me a saber os teus segredos
desde que soube amar; e amei-os tanto!...
Sonhava as noites de teus dias ledos
afogado de enlevo, em riso e em pranto.
Quis dar-te hinos d’amor, débeis os dedos
não sabiam soltar da lira o canto,
mas amar-te o esplendor de imenso brilho…
eu tinha um coração, e era teu filho!

Jardim da Europa à beira-mar plantado
de loiros e de acácias olorosas;
de fontes e de arroios serpeado,
rasgado por torrentes alterosas,
onde num cerro erguido e requeimado
se casam em festões jasmins e rosas;
balsa virente de eternal magia
onde as aves gorgeiam noite e dia.

(…)

Por ti canto, meu berço de inocente,
lisa estrada que andei débil infante;
meu viçoso jardim de adolescente,
meu laranjal em flor sempre odorante,
minha tarde de amor, meu dia ardente,
minha noite de estrelas rutilante.
Tu… dá-me ao cerrar noite o meu inverno,
um leito funeral ao sono eterno.

in. D. Jaime


Tomás Ribeiro faz parte com o seu sentimento pátrio de que este poema é uma exaltação sentida e profunda de uma pléiade de ilustres homens das Letras portuguesas de que foi rico todo o século XIX, com ênfase muito especial para a sua segunda metade, cabendo dizer que este Poeta e outros só não ultrapassaram - como deviam - as fronteiras europeias da cultura pelo atraso político-social em que a política canhestra do "deita-abaixo" em obediência ao sonho republicano, não ousou colocar Portugal nas asas da fama.

É um mal endémico de que estamos a sair.
Tenho a certeza disso.

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