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quarta-feira, 26 de agosto de 2015

A velha Escola Primária da minha aldeia... e tudo o mais!


Ao cimo da ribanceira, hoje tão fácil de subir... 
e antigamente, tão difícil!


Ei-la, restaurada, a velha Escola Primária da minha aldeia serrana, infelizmente, já não para receber alunos, que os não há, mas para constituir nos tempos de hoje uma bela recordação, aparecendo assim aos naturais e forasteiros emoldurada por canteiros de flores e de arbustos por entre a escala coleante feita de pedra: piso e guardas.

Dir-se-á e com todo o sentido que o urbanismo rural passou por aqui, tendo feito da antiga ribanceira - ou barreira como era conhecido o acidente orográfico - a partir da velha fonte dos bois - que já não existem - um caminho seguro que substituiu o antigo carreiro, tendo dos lados o tratamento verde que lhe dá com a beleza das flores, aquilo que a velha Escola Primária foi: um canteiro de jovens - as flores da aldeia - que ali aprenderem as primeiras letras.

Na bela imagem o pinheiro bravo - em profusão - atira as agulhas das suas pernadas para o azul imaculado do céu, cuja cor só assim se encontra na minha aldeia, como se as nossas cabeças merecessem receber naquele lugar encantado o esmalte daquele azul forte a projectar-se sobre a poalha sempre leve duma atmosfera regeneradora de todas as nossas canseiras da cidade, que ali se vencem na calmaria dos horizontes, cujo ar nos chega, leve e puro, peneirado pelo arvoredo, giestas, madressilvas e pelos matos rasteiros por onde se esconde, fugitivo, o coelho bravo.

Uma das minhas queixas é nunca ter frequentado esta velha Escola Primária, porque em menino - tinha 2 anos - o destino arrancou-me deste rincão para me postar na grande cidade, sem contudo, por "obra e graça" dos meus progenitores ter esmorecido em mim o amor pela aldeia onde nasci e, na qual, um dia, mercê da minha colaboração com a Liga de Melhoramentos, ter ajudado a restaurar o edifício degradado onde se ensinaram os primeiros saberes, para o transformar num Museu onde se guardam com esmero e quase religiosidade alguns antigos objectos da faina dos campos, manuseados por quem nos antecedeu no tempo e são para sempre eternamente recordados e chamados - por nossos avós - cujos horizontes de muitos deles foi este Mar de Montanhas que a foto documenta:



Foi a este Mar de Montanhas que num dia de alguma quietude contemplativa dediquei o poema "Bucólico", onde aparecem os bois "lentos e mansos" que eu via, levados pela mão do lavrador até à tina de pedra que está ao fundo da ribanceira que conduz à velha Escola Primária, a chamada "fonte dos bois" de que já se falou.

Tudo, é hoje, é uma imensa saudade que se mistura com a alegria dos novos tempos em que, a minha aldeia renovada, quer caminhar a par da modernidade, sem contudo deixar de ter no cerne da sua história a memória intergeracional que ficou e no "céu azul sem tormenta" a paz que só ali acontece.


 BUCÓLICO

Ó terra da Beira, distante..
Quanto de ti me contenta!
O ar,
A luz,
O céu azul sem tormenta!

Terra onde um dia nasci
Entre pinhais e penedos...
Ai, quanto me prende a ti:
O milheiral,
Verde e doirado,
Cheio de segredos!
O ribeiro manso
Por entre salgueirais
Limando penedos!

Os carros de bois
À tardinha,
Lentos e mansos
Pela mão da boieirinha!

Os teus pinhais
E os montes floridos
De cores vivas
Como vitrais!
A tua capelinha
Co’a torre sineira
Muito branquinha!

Mas de tudo
O que mais me enleia
E enternece
É a paz
Da minh’aldeia...

Que noutro lado
Não acontece!

1972

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