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terça-feira, 4 de agosto de 2015

O velho tronco!


Parque Silva Porto (vulgo Mata de Benfica - Lisboa)
Agosto 2015

Árvores são poemas que a terra escreve para o céu
(Khalil Gibran)


Aprecio este pensamento que o Poeta libanês nos deixou e que a sua liberdade poética permitiu, como permite a todos os que fazem desta ate nobre a sua Literatura. 

As árvores são, efectivamente, poemas que os homens que as plantam - alguns até costumam rezar pelos bons frutos que elas venham dar - atiram numa "escrita" especial para o céu, no desejo de as verem crescer, porque um Mundo sem árvores não tinha qualquer encanto.



Por isso, no terceiro dia da Obra da Criação, Deus, conjuntamente com todas as espécies de ervas, criou-as com as respectivas sementes, ou seja, elas são anteriores ao aparecimento do homem que teve de esperar mais três dias, que verdadeiramente, jamais se saberá a quantos anos correspondem, porque na Obra Divina o Mistério dos dias não se contam pelo transcurso das 24 horas.

Há dias passei pela Mata de Benfica e aquele velho tronco que no ladear do caminho, agora silencioso, porque lhe cortaram as ramadas que foram grandiosas, viu passar milhares de pessoas, abrigou pardais e que deu sombra ao caminho, apresenta no corte que mão dendroclasta não se inibiu de fazer a imagem da árvore que ali existiu.

Deixado ali, é um marco do caminho para mostrar às suas companheiras vegetais que todas elas foram plantadas - como ele foi - para serem árvores frondosas e, depois, dei comigo a pensar no género humano, sobretudo, nos que, à beira dos caminhos da vida, já gastos pelos anos, são troncos só aparentemente "cortados", porque tendo sido "árvores humanas" de grande valia, apesar de gastas não desistem de continuar a servir

E isso bastou para acordar na minha lembrança as VELHAS ÁRVORES - um poema de Olavo Bilac - que fica aqui em lembrança daquele passeio ao fim da tarde pela Mata de Benfica e de tudo quanto em mim despertou aquele velho tronco à beira do caminho que não desiste de existir, como se a mão do homem o não tivesse cortado rente para me permitir, de à vista dele me lembrar que sem ter a valia que teve, não deixou de mexer com a minha sensibilidade.

E vamos às VELHAS ÁRVORES de Olavo Bilac.




 Velhas Árvores

 Olha estas velhas árvores, mais belas
 Do que as árvores novas, mais amigas:
 Tanto mais belas quanto mais antigas,
 Vencedoras da idade e das procelas...

 O homem, a fera, e o insecto, à sombra delas
 Vivem, livres de fomes e fadigas;
 E em seus galhos abrigam-se as cantigas
 E os amores das aves tagarelas.

 Não choremos, amigo, a mocidade!
 Envelheçamos rindo! envelheçamos
 Como as árvores fortes envelhecem:

 Na glória da alegria e da bondade,
 Agasalhando os pássaros nos ramos,
 Dando sombra e consolo aos que padecem!

 in "Poesias"

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