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sábado, 8 de agosto de 2015

Uma recordação.


in, beachcam.sapo.pt (com a devida vénia)
Praia Grande (Sintra) - Ao fundo o Hotel com a sua piscina oceânica


Eu peço licença à alma desse mimoso poeta brasileiro que viveu em Portugal no século XIX para começar esta recordação, citando o primeiro verso da primeira estrofe do poema  - Deus - para citar o tempo feliz que me levava até à Praia Grande para ali encher os olhos na amplidão do mar.

Eu me lembro! eu me lembro! - Era pequeno...e, como ele, descuidado da vida e dos muitos trabalhos que me aguardavam brincava na praia, com a diferença - importante - que naquele descuido da minha infância não me lembrava que tudo aquilo que me enchia os olhos de magia - o mar - era obra de Deus, desse Ser incorpóreo que a minha santa mãe me tinha ensinado a amar e respeitar.

Porque, Casimiro de Abreu foi mais introspectivo que eu, embora os dois tivéssemos tido os olhos cheios de mar e termos visto, sacudida, A branca  espuma para o céu serenoteve o condão de interpelar sua mãe sobre o nosso mesmo Deus para ouvir a resposta cheia de fé e e sabedoria que ele, num arroubo místico, imortalizou no poema DEUS que nos deixou como um marco da sua caminhada poética:



Eu me lembro! eu me lembro! - Era pequeno
E brincava na praia; o mar bramia
E erguendo o dorso altivo, sacudia
A branca escuma para o céu sereno.

E eu disse a minha mãe nesse momento:
"Que dura orquestra! Que furor insano!
"Que pode haver maior que o oceano,
"Ou que seja mais forte do que o vento?!"

Minha mãe a sorrir olhou p'r'os céus
E respondeu: - Um Ser que nós não vemos
"É maior do que o mar que nós tememos,
"Mais forte que o tufão! Meu filho, é - Deus!"

Casimiro de Abeu
Dezembro - 1858.

Resta-me agradecer a felicidade de nestes tempos em que a vida já tomba movida pelos anos, ter recordado este poema de Casimiro de Abreu que teve a arte de levar para trás - envolto num sonho - a minha recordação dos tempos longínquos em que a Praia Grande, pelo facto de eu ser pequeno, parecia maior que hoje, porque quando se é pequeno há um erro de perspectiva que leva os olhos a tornar maiores os espaços e as distâncias


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