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segunda-feira, 3 de agosto de 2015

A terra, a lavra, os velhos lavradores... e alguma saudade!

A lavra da terra
Gravura publicada pela Revista "Occidente" de 21 de Julho de 1887


O antigo lavrador do arado e grade puxados pela força animal dos bois de trabalho já não existe que não seja na lembrança dos mais velhos - como eu - que tive a sorte de os ver, ainda, empenhados na faina dos campos a abrir os sulcos, que depois eram gradados em demoradas idas e vindas dos animais com o fim de desfazer os torrões da terra mais firme, por forma à dar às superfícies lavradas a textura da lavoura.
                           
grade


Segundo se crê há 4.500 anos  a.C. o ser humano fixou-se e passou a usar os galhos das árvores mais densas e duras - que foram os arados primitivos -  para revolver a terra e semear as sementes, tendo com esta prática passado a dominar a terra, o que lhe permitiu criar os primeiros povoados, ao que consta nos vales férteis da Mesopotâmia irrigados com as águas dos rios Tigre e Eufrates.

Não é este o local nem tampouco se pretende assinalar pelos séculos fora a evolução deste utensílio que passou da matéria vegetal para a mais sofisticada das técnicas mecânicas que explodiram no século XIX e preencheu quase todo o século imediato, tendo dado ao lavrador uma ferramenta indispensável ao amanho das terras.

Apontamento, apenas, de um tempo em que no remanso das aldeias mais escondidas entre montes o arado e a grade - hoje peças de museu - foram importantes e indispensáveis, como o foram os bois possantes que acudiam, lestos à voz do lavrador.

Recordo-me de os ver passar ao fim do dia, nos tempos da minha adolescência, a caminho da corte, mansos e bons com o seu olhar sereno que sempre me impressionou e que um dia - muitos anos depois - recordei num poema que a minha saudade ditou, acordando em mim a lembrança da boeirinha - a doce mulher de um lavradaor da minha aldeia - que costumava conduzir os bois depois da lavra dos campos.

BUCÓLICO

Ó terra da Beira, distante...
Quanto de ti me contenta!
O ar,
A luz,
O céu azul sem tormenta!

Terra onde um dia nasci
Entre pinhais e penedos...
Ai, quanto me prende a ti:
O milheiral,
Verde e doirado,
Cheio de segredos!
O ribeiro manso
Por entre salgueirais
Limando penedos!

Os carros de bois
À tardinha,
Lentos e mansos
Pela mão da boieirinha!

Os teus pinhais
E os montes floridos
De cores vivas
Como vitrais!
A tua capelinha
Co’a torre sineira
Muito branquinha!
Mas de tudo
O que mais me enleia
E enternece
É a paz
Da minh’aldeia...
Que noutro lado
Não acontece!

1972

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