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quinta-feira, 5 de março de 2015

Madrigal (Um poema de António Ramos de Almeida)

Flauta de Pã 
in, Wikipédia


                MADRIGAL

Se eu soubesse gravava o teu sorriso
em pedaços de azul,  num camafeu.
Com a flauta de Pã e um caduceu
recortados em friso.

Embutido em fundo de marfim,
burilado a preceito,
pendurava-o depois junto do peito
e tinha o céu à mão dentro de mim.
     

No seu género característico o madrigal é uma composição poética, musical e profana que teve a sua origem no século XIII e se projectou com alguma notoriedade, como aconteceu em Portugal até ao século XVIII, tendo encontrado um grande cultor em Filinto Elísio. Desaparecido em todo o século XIX, contou com algumas aparições na centúria seguinte com a aparição do Modernismo.

O madrigal aborda de preferência assuntos pastoris, mas não rejeita o lado heróico, senão mesmo alguma libertinagem, mantendo em todos eles uma imaginação viva e o lirismo da expressão.

O poeta António Ramos de Almeida, no seu mais recente livro: "SOLSTÍCIO" vem retomar na composição que se reproduz e a que ele deu o sugestivo título - MADRIGAL - em honra deste género poético em que a flauta de Pã a que alude dá o influxo pastoril à beleza do poema e onde a imagem do sorriso gravado em pedaços de azul nos dá, pela "liberdade poética" que só ao poeta é permitida, uma "possibilidade" de se poder ter o céu à mão por andar pendurado na arca do peito...

Este meio do poeta se poder servir de irrealidades como acontece neste poema representa o quanto se pode admirar a sua arte, onde o lirismo se transforma num cinzel de palavras para nos poder transmitir a imagem que lhe acode ao pensamento, conseguindo meter dentro dela os seus leitores.

Assim aconteceu comigo!


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