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sábado, 14 de março de 2015

Grão de Incenso - Um poema de Augusto Gil




GRÃO DE INCENSO

 Encontraste com ar cansado
 Numa igreja fria e triste.
 Ajoelhei-me ao teu lado
– E nem ao menos me viste...

 Ficaste a rezar ali,
 Naquela imensa tristeza.
 Rezei também, mas a ti.
– Que aos anjos também se reza...

 Ficaste a rezar até
 Manhã dentro, manhã alta.
 Como é que tens tanta fé
 E a caridade te falta?...


in, Luar de Janeiro



Augusto Gil foi um neo-romântico e se houvesse dúvidas, este belo - ainda que pequeno poema - é uma prova concludente pelo lirismo da composição onde perpassam leves, com um hálito de fragrância amorosa os sentimentos puros do Poeta, como se, pelo facto de terem bebido os ares bem altos da terra onde viveu grande parte da sua vida - a cidade da Guarda - os tivesse plasmado em todas as suas composições poéticas.

o "Grão de Incenso" não foge à exaltação do seu pensamento ante uma cena trivial, que no entanto, assume pela arte do seu versejar ritmado e grácil, o encanto de um momento em que, ante a fé de "alguém" - possivelmente criado para adornar o poema - fica a pergunta final, quanto a uma hipotética falta de caridade, ou seja, à correspondência de uma amor que se dá e não tem retorno.

É um quadro da vida "pintado" com letras simples mas onde se cruzam no sentimento do amor, que vai continuar a ser até à consumação dos séculos a grande cruzada dos seres criados para se amarem, ainda que o amor que os anima se projecte, simplesmente num pequeno e volátil "Grão de Incenso" -  que pode não ter correspondência -  mas deixa ficar no ar a fragrância que o comandou.


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