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sábado, 7 de março de 2015

A falta de memória do Partido Socialista



Passos Coelho errou com a Segurança Social.
Já o assumiu.
Teve problemas de atrasos com as Finanças.
Também o assumiu, declarando até, com humildade - o que é raro em políticos - que nalguns casos por fala de dinheiro.
Pagou à Segurança Social - que nunca o notificou de qualquer anomalia, como devio ter feito  - embora o assunto já houvesse prescrito.
Pagou às Finanças com os juros de mora devidos.
Não deve nada ao Estado.

Pessoalmente, penso, que isto não devia ter acontecido com Passos Coelho, mas crucificá-lo como está a fazer o Partido Socialista, não o faço, porque errar acontece a todos os homens, pelos mais variados motivos.

Eis, porque, o que devia ficar como exemplo a seguir - é a História de Jesus com a mulher adúltera que, mesmo aqueles, que tinham dormido na sua cama, queriam assassiná-la à pedrada, segundo o costume da época - o que levou Jesus a perguntar aos homens adúlteros a célebre frase:

 - Aquele que de entre vós estiver sem culpa que lhe atire a primeira pedra.

E todos um, após um. todos se foram embora.

Eis, porque, ao pensar na atitude puritana de alguns políticos importantes do Partido Socialista perante os deslizes de Passos Coelho, apetece perguntar a cada um dos seus inflexíveis próceres, a mesma pergunta de Jesus, porquanto o PS não percebe que está a fazer o papel do Partido Comunista - ou seja o modo pouco respeitoso como se porta no Parlamento - cujo líder carismático, Álvaro Cunhal em  27 de  Junho de 1975 numa entrevista dada à jornalista italiana Oriana Fallaci, disse:

Se pensa que a Assembleia Constituinte vai transformar-se num Parlamento comete um erro ridículo. Não! A Constituinte não será, de certeza, um órgão legislativo. Isso prometo eu. Será uma Assembleia Constituinte, e já basta (...). Asseguro-lhe que em Portugal não haverá Parlamento.


O Parido Socialista devia lembra-se do "Caso República" que teve a ver com a tomada do jornal por elementos afectos ao Partido Comunista, conforme o relato da época de uma local, assim expressa:

As hostilidades que, desde 2 de Maio, opunham os trabalhadores gráficos e dos serviços administrativos, representados pela Comissão Coordenadora de Trabalhadores (CCT), e a redacção e administração, atingem o seu ponto mais crítico no dia 19 de Maio de 1975.
Na manhã desse dia, a CCT decide "suspender do exercício das suas funções" a Administração e a chefia de Redacção acusando-as de estarem a tentar transformar o jornal num órgão afecto ao Partido Socialista. As instalações do jornal são ocupadas pelos trabalhadores que comunicam aos jornalistas que quem quiser sair já não poderá voltar. Ninguém sai. A edição de 19 de Maio do "República" sai para a rua à hora prevista mas com uma constituição diferente: lia-se no cabeçalho o nome de Álvaro Belo Marques como director-interino e um editorial "Estimado leitor" explica a razão da luta dos trabalhadores. Como reacção, a redacção do jornal lança também um comunicado insurgindo-se contra o abuso de poder de "uma Comissão dos Trabalhadores".

No exterior das instalações, o PS organiza uma manifestação de apoio à antiga direcção. Mário Soares, Salgado Zenha, Manuel Alegre, Sottomayor Cardia são algumas das personalidades que lideram o ajuntamento popular no Largo da Misericórdia.

Com o decorrer das horas, o número de manifestantes aumenta. Entoam-se hinos e proferem-se palavras de ordem contra os "ocupantes" do edifício, contra o PCP, contra Álvaro Cunhal e contra o MFA. A tensão aumenta à medida que a concentração tem mais adesão. Às 19.30, oficiais do COPCON e da PM entram no edifício da "República" para protegerem quem lá se encontra e evitar uma escalada da violência.(...)

in, folheto do "Caso República"

Digo que o PS devia lembrar-se porque os comunistas actuais fiéis ao ideário de Álvaro Cunhal - hoje como em 1975 - até parece, pelo modo com zurzem nos seus adversários políticos, para eles quanto pior melhor, ou seja, quanto mais se abandalhar a vida política, mais perto estamos de lhes fazer a vontade, pelo que o PS devia comportar-se com mais responsabilidade e ética humana perante o que se passou com o actual Primeiro-Ministro, que pode ter muitos defeitos - ele mesmo o disse, não ser um cidadão perfeito... e quem o é? - mas foi ele que assumiu a responsabilidade de restituir a Portugal a credibilidade perdida com a pré-bancarrota de 2011.

O PS que atente nisto: a falta de qualidade que se sente nos actuais agentes políticos que se assentam nas cadeiras de São Bento, é que - homens probos -  não estão sujeitos a passar pelos enxovalhos dos seus pares contrários e de uma certa comunicação social que se compraz com a chicana política.

Atenção.
É que, de passo em passo mal dado, estamos a cair no atoleiro.

Para memória do Partido Socialista fica aqui na íntegra a entrevista de Álvaro Cunhal e que o "Jornal do Caso República" publicou.


Publicação de 27 de Junho de 1975


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