DISCURSO
PROFERIDO NA CÂMARA DOS COMUNS
DO PARLAMENTO BRITÂNICO, EM 13 DE MAIO DE
1940.
Primeiro discurso
de Winston Churchill na Câmara dos
Comuns enquanto primeiro-ministro britânico, em que apresentou uma Moção de
Confiança ao Governo que ia dirigir.
Winston Churchill
foi nomeado primeiro-ministro em 10 de Maio de 1940, devido à demissão de
Neville Chamberlain, primeiro-ministro britânico desde ... . Esta demissão foi
provocada pelo início da campanha militar alemã contra as potências ocidentais,
iniciada nesse mesmo dia 10 de Maio com a invasão da Holanda, Bélgica,
Luxemburgo e França.
Churchill
organizou um governo de unidade nacional, com a participação dos líderes do
Partido Trabalhista e do Partido Liberal, e apresentou-se na Câmara dos Comuns
com uma Moção de Confiança, que foi aprovada.
Neste discurso,
um dos seus mais célebres, mostrou mais uma vez os seus dotes oratórios, a sua
capacidade de liderança e a facilidade em criar frases de grande impacto que
resumiam bem, tanto o seu estado de espírito, como os problemas a enfrentar e
as soluções possíveis.
A frase que utilizou
para explicitar o futuro, retirado de uma afirmação de Garibaldi de 1849
("Non offro nè pagga, nè quartiere, nè provvigioni. Offro fame, sete,
marce forzate, battaglie e morte" [Não dou pré, nem quartéis, nem
provisões. Dou fama, sede, marchas forçadas, batalhas e morte], é de uma
simplicidade e de uma força
impressionantes - e a brutal verdade. Actualmente, simplificada, ainda
tem mais impacto: O futuro ? «Sangue, suor e lágrimas». E de facto assim foi.
«SANGUE,
SOFRIMENTO, LÁGRIMAS E SUOR»
Na última
sexta-feira à noite recebi de Sua Majestade o encargo de constituir novo
Governo. Era evidente desejo do Parlamento e da Nação que este Governo tivesse
a mais ampla base possível e que incluísse todos os Partidos.
Fiz já a parte
mais importante desse trabalho.
Formei um
gabinete de guerra com cinco membros, que representam, com a Oposição
Trabalhista, e os Liberais, a unidade nacional. Era necessário que tudo isto se
fizesse num só dia, dada a extrema urgência e gravidade dos acontecimentos.
Outros cargos importantes foram providos ontem e apresentarei esta noite ao Rei
uma nova lista. Conto concluir amanhã a nomeação dos principais ministros.
A escolha dos restantes ministros normalmente
leva um pouco mais de tempo, mas espero que, quando o Parlamento voltar a
reunir-se, essa parte da minha tarefa esteja terminada e a constituição do
Governo se encontre completa sob todos os pontos de vista. Entendi ser de
interesse público propor que a Câmara fosse convocada para hoje. No final da
sessão de hoje, propor-se-á o adiamento dos trabalhos até terça-feira, 21 do
corrente, tomando-se as disposições adequadas para que a convocação se faça
antes disso, se necessário for. As questões a discutir serão notificadas aos Srs.
deputados o mais cedo possível.
Convido agora a Câmara, pela moção apresentada
em meu nome, a registar a sua aprovação das medidas tomadas e a afirmar a sua
confiança no novo Governo.
A resolução:
«Esta Câmara
saúda a formação de um governo que representa a vontade única e inflexível da
Nação de prosseguir a Guerra com a Alemanha até uma conclusão vitoriosa.»
Formar um Governo
de tão vastas e complexas proporções é, já por si, um sério empreendimento, mas
devo recordar ainda que estamos na fase preliminar duma das maiores batalhas da
história, que fazemos frente ao inimigo em muitos pontos - na Noruega e na
Holanda -, e que temos de estar preparados no Mediterrâneo, que a batalha aérea
contínua e que temos de proceder nesta ilha a grande número de
preparativos.
Neste momento de crise, espero que me seja
perdoado não falar hoje mais extensamente à Câmara. Confio em que os meus
amigos, colegas e antigos colegas que são afectados pela reconstrução política
se mostrem indulgentes para com a falta de cerimonial com que foi necessário
actuar. Direi à Câmara o mesmo, que disse aos que entraram para este Governo:
«Só tenho para oferecer sangue, sofrimento, lágrimas e suor». Temos perante nós
uma dura provação. Temos perante nós muitos e longos meses de luta e
sofrimento.
Perguntam-me qual é a nossa política?
Dir-lhes-ei; fazer a guerra no mar, na terra e no ar, com todo o nosso poder e
com todas as forças que Deus possa dar-nos; fazer guerra a uma monstruosa
tirania, que não tem precedente no sombrio e lamentável catálogo dos crimes
humanos. -; essa a nossa política.
Perguntam-me qual é o nosso objectivo? Posso
responder com uma só palavra: Vitória – vitória a todo o custo, vitória a
despeito de todo o terror, vitória por mais longo e difícil que possa ser o
caminho que a ela nos conduz; porque sem a vitória não sobreviveremos.
Compreendam bem: não sobreviverá o Império
Britânico, não sobreviverá tudo o que o Império Britânico representa, não
sobreviverá esse impulso que através dos
tempos tem conduzido o homem para mais altos destinos.
Mas assumo a minha tarefa com entusiasmo e fé.
Tenho a certeza de que a nossa causa não pode perecer entre os homens. Neste
momento, sinto-me com direito a reclamar o auxílio de todos, e digo «Unamos as
nossas forças e caminhemos juntos».
Sem comentários:
Enviar um comentário