A lei de ouro do comportamento é a tolerância mútua, já que
nunca pensaremos todos da mesma maneira, já que nunca veremos senão uma parte
da verdade e sob ângulos diversos.
Mohandas Karamchand Gandhi
O problema da
tolerância ao pôr-se, apenas, em questões opinativas leva-nos a concluir que
estas conduzem o homem a ter sobre ele duas atitudes em confronto e de sinal
contrário: uma de respeito e amor pelo outro ainda que se tenha opinião
contrária, e outra de falsa concordância, onde o amor e o respeito cedem
cobardemente os seus atributo à tibieza e à falta de complacência.
Entende-se o
antagonismo, a partir do momento em que nos dispomos a reflectir sobre o sentido da palavra –
tolerância – pois, o que chega ao nosso entendimento, não é apenas o seu
significado académico: consentir, desculpar, admitir, mas a par
disto e como sentido plebeu, ela também é entendida como uma fraqueza, um desleixo, um deixa
andar, um não ligar e, até, significando um desinteresse onde
falta todo e qualquer sentimento humano.
Tolerância é
isto, no bom e mau sentido, mas é algo mais.
Ultrapassa
estas duas concepções contrárias, assumindo-se como uma virtude serena do homem
calmo, cheio por dentro de uma grande paz interior que advém do equilíbrio que
permite estar atento a tudo quanto se passa ao seu redor, donde lhe é facultada
a serenidade quanto tem de agir e tirar conclusões justas em questões onde o
julgamento humano - falho como é – tem
de ter o melhor dos desempenhos para não ferir a sensibilidade do outro.
Aqui a
tolerância está carregada de amor humano ou de simples amizade.
A prudência
não pode, por este motivo, de estar presente na virtude de julgar, reflectindo
e interiorizando cada acontecimento, sendo a cautela onde ela assenta a sua
almofada, tendo-se como certo que todo aquele que age à revelia destes
princípios corre o risco de ser um falso tolerante, admitindo o deixa andar
ou o não ligar e outros modos, agindo-se por comodismo, fazendo-se da
tolerância um engano sobre si mesmo e sobre o outro, e o que é muito grave,
fazendo dela uma caricatura.
Tolerar,
pressupõe, sobretudo, respeito pelo outro, devendo ser sempre um acto reflexo
da amizade ou do amor que obriga aquele que usa de tolerância a raciocinar para
compreender o outro na procura de o ajudar. A tolerância é, deste modo, o
primeiro dos caminhos para o trazer o à observância do que é aceitável na
discussão das ideias e, até, do ponto de vista espiritual, um modo o de fazer
vir ao encontro do que é normal na vivência adulta entre pessoas, mas tendo
sempre presente que as verdades humanas são sempre relativas, sendo apenas
imutáveis os princípios da esfera divina.
É, neste ponto
que cabe ao homem tolerante ser alguém de coração aberto.
Alguém, que
normalmente esconde uma alma acolhedora, que não repele, mas acarinha, virtudes
que estando acima do julgamento sumário – tantas vezes usado - faz dele um elo humano de tal modo forte que
ao aceitar as ideias do outro, embora diferentes das suas, ao agir assim, o
faz, por sentir brilhar nele luzes de
sinceridade.
Tolerância é
compreender que o outro que caminha ao nosso lado é “ele” com todos os seus
defeitos e virtudes, e não um outro“eu”, querendo por força que ele comungue
das minhas ideias, mas, ao invés, respeitando as suas diferenças e
aceitando-as, fazendo um esforço diário para compreender o porquê das suas
opiniões contrárias.
Apesar disto,
as expressões “ isso não é comigo” ou “não posso endireitar o mundo” não podem
fazer carreira entre os homens, porque uma e outra são sinais evidentes da
demissão a que hoje assistimos, tolerando-se de um modo que é falso - e que mais não é - que o resultado de pactos de desinteresse
e de cobardia e, sobretudo, de falta de
respeito pelo outro, ao saber-se que um mundo melhor só pode ser construído
pela tolerância sadia que ao aceitar as ideias do outro, não deixa, com sentido
construtivo, de lhe fazer sentir a opinião diversa, para que do confronto das
duas, possam, eventualmente, nascer os consensos necessários à concertação das
coisas.
Mas tolerar
pela demissão, nunca o façamos, porque é sempre uma fuga que não pode ser
consentida ao homem verdadeiramente tolerante, pois é do esforço por
compreender e aceitar o outro que crescem as amizades fortes e se enriquece o
mundo a começar pela acção isolada de cada um que cumpre no grande palco da
vida a sua missão interventiva na sociedade, tarefa de que ninguém está
excluído.
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