Até a própria torre desafia o alto!
Grande homem é aquele
que não perde o seu coração de
criança.
Lao Tzu
Conta-se que
havia um caminho longo e estreito que corria ao longo de quilómetros, tendo de
ambos os lados muros altos a servir de divisão entre duas propriedades onde se
cultivava de tudo e cujos donos se isolavam entre aqueles dois muros, cada um
para não ver o que o outro cultivava.
Eram dois homens
vizinhos, mas estranhos.
Tendo perdido,
cada um, o seu coração de criança, viviam egoisticamente, fazendo da vida uma
luta constante, numa competição feroz que não admitia troca de ideias quanto
aos modos de serem rentabilizadas as culturas das suas terras.
Diz-nos a
história, que iguais a eles, havia dois passarinhos.
Tinham o
hábito de voar rasteiros por dentro dos muros que ladeavam as duas propriedades
e tal como os lavradores não se viam um ao outro, cada um, julgando, que o
campo de um era mais fértil que o outro e, assim, imitando a solidão dos dois
lavradores, levando dia a dia voos sem alegria, quase a tocar o chão, sem lhes importar
a grandeza do Céu que por cima deles apresentava sinfonias de um azul sem
mancha, onde os dois faziam falta, talhados como haviam sido para voar nas
alturas.
Temos assim, a
par os homens e aquelas duas aves.
Destinos criados
para as alturas – cada um de acordo com a sua condição – a viverem rentes ao
chão.
É então, que na
história entram dois protagonistas do Céu, que no propósito de emendar as
atitudes dos lavradores, começam por falar das atitudes dos dois passarinhos,
companheiros, nas atitudes, dos dois lavradores.
Num certo dia, um
anjo, condoído do voo das duas aves que voavam ao longo daqueles dois muros
imensos a um metro do chão, admirado, comentou:
- Mas, assim,
voando tão baixo – não se vendo até um ao outro – será que algum dia se
encontrarão?
Foi quando, um
outro anjo lhe respondeu:
- Não te
importes. Verás que o muro, sendo embora muito grande, tem um fim e quando
acabar, nesse dia, encontrar-se-ão...
Replicou-lhe o
companheiro:
- Mas vê bem. Não
seria mais sensato, para eles, que foram criados por Deus para voar alto,
deixarem aquele voo rasteiro? – É que se subissem um pouco mais para o alto
ainda hoje se encontravam, concluiu ele, dando mostras de estar cheio de razão.
E tinha-a,
convenhamos.
Este diálogo
fabuloso serve para acabar a história e tecer as seguintes considerações:
Os passarinhos
são uma alegoria do que se passava com os dois proprietários dos terrenos,
separados por aqueles dois muros.
Um dia – como
avisadamente disse um dos anjos – os dois homens, criados por Deus para
erguerem os olhos para o alto, depois de ter passado o tempo dos egoísmos e das
vaidades mesquinhas, tendo reconhecido o tempo que perderam, haviam de apertar as
mãos e pedir desculpa um ao outro por terem erguido muros tão altos nas suas
vidas.
Os passarinhos,
são, ainda, uma imagem do que se passa com os homens que, tantas vezes, andam
de costas voltadas, voando baixo ao longo dos muros que os separam, quando pelo
dom de Deus, os seus destinos - como o
dos passarinhos – foram feitos para voar nas alturas.
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