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domingo, 22 de janeiro de 2017

22 de Janeiro: S. Vicente, um Padroeiro esquecido de Lisboa

REPRESENTAÇÃO ICONOGRÁFICA DA NAU DE S. VICENTE
in, "Revista Municipal" - Ano II - nº 7 - 1º trimestre de 1941
Brasão da Cidade de Lisboa

O que liga  Lisboa a S. Vicente - natural de Saragoça (Huesca) - é a chegada das suas relíquias a Lisboa ocorrida em 1173, trazendo a nau dois corvos de vigia ao seu corpo que fora levado de Valência, onde estaria na antiga Igreja sob sua invocação preservando-o de ser profanado no tempo da invasão árabe da Península Ibérica, tendo a nau aportado no Promontório de Sagres, que hoje tem o nome de Cabo de S. Vicente.  Daí o motivo do Brasão de Lisboa representar a nau com os dois corvos
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S. Vicente é o mais célebre dos mártires hispânicos, sendo o único que se encontra incorporado na liturgia da igreja universal. O seu dia celebra-se a 22 de Janeiro, razão de peso que levou a Diocese de Lisboa a preterir em sua memória as Leituras litúrgicas correspondentes ao III Domingo do Tempo Comum, que hoje teriam lugar.

S. Vicente foi um levita, o que quer dizer em linguagem eclesial "ministro de louvor" e "músicos sacros", derivando o nome da tribo de Levi, um dos 12 filhos de Jacob do Antigo Testamento que segundo a Bíblia (Ex 32, 26) quando o povo se entregou à idolatria enquanto esperava o regresso de Moisés vindo do monte aonde subira para trazer as "Tábuas da Lei", os descendentes de Levi se opuseram àquela prática idólatra, dispondo-se a servir Deus como seus ministros de glória e louvor, quando o rei David instituiu a música como parte integrante do culto, tendo atribuido a alguns levitas a responsabilidade musical.


S. Vicente - o levita ou diácono - foi martirizado em Valência pelo delegado imperial Daciano no tempo do Imperador Dioclesiano que fez publicar em 303 e 304 três éditos contra o povo cristão que ordenavam a destruição de Igrejas, destruição pelas chamas dos livros sagrados, prisão e morte aos que não prestassem culto aos deuses romanos, o que não veio a acontecer com S. Vicente que se mostrou irredutível na sua fé a Jesus Cristo,  tendo o seu corpo depois de martirizado sido lançado num campo para que as aves de rapina o comessem.

Sucedeu, então, que um corvo o tivesse impedido, de onde resultou que Daciano o tivesse mandado lançar ao mar tendo o seu corpo, movido pelas marés, acabado por ter sido depositado na praia de que resultou que alguns cristãos tomaram conta dele e ocultamente o enterraram numa pequena casa em Valência no ano 304.

Temendo Dominando Abderramen, o príncipe mouro que sucedeu a Daciano, esses mesmo homens tomaram o corpo de S. Vicente e embarcaram-no numa pequena nau que lançaram ao mar, que foi sempre seguida pelo corvo que protegera os despojos do seu seu cadáver, tendo esta aportado na terra portuguesa de Sagres que veio a chamar-se Cabo de S. Vicente, onde foi construída uma pequena ermida para onde conduziram o corpo do Santo, e que segundo a tradição passou a ser um lugar aonde os corvos se viam em profusão, como se protegessem o cadáver de S. Vicente.

Após a tomada de Lisboa aos mouros alguns cristãos conhecedores do local onde estavam as relíquias do Santo que se havia tornado popular por influência dos sermões escritos sobre ele por Santo Agostinho, seguros de se poderem deslocar em segurança ao Algarve foram de longada até lá e trouxeram o mártir que chegou a Lisboa em 15 de Setembro de 1173, sempre acompanhado do corvo - a que outro se juntou - e que jamais abandonou os despojos de S. Vicente que foram depositados na Sé de Lisboa, onde ainda existem as relíquias do Santo que é venerado solenemente a 22 de Janeiro.

o Brasão de Lisboa, iconograficamente, lembra este acontecimento histórico, fazendo honras ao que acontece com muitas outras cidades de Portugal que têm representado nos seus brasões feitos brilhantes do seu passado remoto ou mais recente.

S. Vicente - o mártir -  é, hoje, um padroeiro esquecido de Lisboa apesar de ser o seu patrono, vivendo na sombra de outro ilustre Santo - filho de Lisboa - Santo António, nascido em 1195 num local bem perto da Sé de Lisboa, onde já se encontravam as relíquias de S. Vicente, e às quais, naturalmente, teria rezado sob a Fé que os unia ao Deus Eterno com o peso de alguns séculos a separar estas duas ilustres figuras da Igreja Universal.

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