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sábado, 7 de janeiro de 2017

Pensar na morte para viver a vida!

"O enterro de Atala" - 1808 - Pintura de Girodet de Roussy
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Hoje, ao ler "O Astrolábio" - uma folha informativa da vida pastoral do meu Concelho  e que o seu responsável tem a delicadeza de ma enviar sendo ao mesmo tempo um veículo cultural que não esquece a espiritualidade - num pequeno texto intitulado "Quando a morte dá uma volta à vida", dei conta desta lição.

Começa por apresentar a figura de S. Francisco de Borja - que na vida civil foi o 4º Duque de Gandia - a quem coube a tarefa no ano de 1539 de acompanhar o corpo da Imperatriz Isabel de Portugal, filha do rei D. Manuel I de Portugal e esposa do rei de Espanha, à sua tumba em Granada. Diz a História que ao ver o corpo desfigurado daquela mulher que fora muito bela, decidiu "nunca mais servir a um senhor que me possa morrer"


Aberto o caixão e ante o seu cadáver em decomposição, Francisco e Borja fez a seguinte meditação: “Onde está a soberana ante quem todos se curvavam? Onde está o seu poder e a sua beleza, o seu sorriso afável e os seus talentos? Eis a que nos reduz este ladrão que é a morte! Somente vós, ó Senhor, sois grande e mereceis a nossa vida!”

Francisco de Borja cumpriu a promessa de nunca mais servir a um senhor que possa morrer, e assim, logo que enviuvou entrou na Companhia de Jesus, tendo sido canonizado em 20 de Junho de 1670 pelo Papa Clemente X.

No desfiar da leitura de "O Astrolábio" é.nos dito ipsis-verbis:

Outro exemplo mais antigo vem-nos da Grécia. Alexandre Magno (+323 A.C.) viu um dia o filósofo Diógenes a remexer ossos de defuntos.

— Que fazes, Diógenes! — indagou o rei estupefacto.
— Procuro a cabeça do rei Filipe, seu pai. É capaz de a distinguir?...

E o grande rei lá foi pensando na lição que o filósofo lhe queria dar sobre a caducidade da vida, mesmo dos reis…

- A morte não respeita soberanias.
- O caixão é um livro aberto.
- Nem rei nem Papa à morte escapa.
- Para a morte não há casa forte.

Depois desta leitura veio-me à mente o que disse sobre a morte um filósofo mais perto do nosso tempo. Trata-se de Voltaire, que um dia, ao ver chegar o fim dos seus dias, soberanamente - ele que sempre viveu longe da espiritualidade que tornou Santo, Francisco de Borja - declarou o seguinte:

"Aproximo-me suavemente do momento em que os filósofos e imbecis têm o mesmo destino"

No fim, dei graças por ter recebido o nº 86 de 8 de Janeiro de 2017 de "O Astrolábio" que me pôs a pensar na morte que não respeita soberanias, porque no caixão onde se encerram os corpos que ela ceifa todos têm o mesmo destino.

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