Sebastião da Gama de remos na mão
vogando nas águas da Arrábida de olhos fitos na Serra-Mãe
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Poema da Minha Esperança
Que bom ter o relógio
adiantado!...
A gente assim por saber
que tem sempre tempo a mais,
não se rala nem se apressa.
O meu sorriso de troça,
Amigos!
quando vejo o meu relógio
com três quartos de hora a
mais!...
Tic-tac… tic-tac…
(Lá pensa ele
que é já o fim dos meus dias.)
Tic-tac…
(Como eu rio, cá para dentro,
de esta coisa divertida:
ele a julgar que é já o resto
e eu a saber que tenho sempre
mais
três quartos de horas de vida.)
Sebastião da Gama
in, “Serra-Mãe”
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Desde que conheci através dos seus livros "O Poeta da Arrábida" - e isto já lá vão umas dezenas largas de anos - este "Poema da Minha Esperança" sempre buliu com os meus sentimentos de tentar enganar a vida, que tenha sido pelas conquistas de mais saúde, quer pelo resguardo que tenho feito - que entendo é um dever humano - mas nunca me ocorreu enganar a vida adiantando o relógio.
Mas entendo o arroubo poético de Sebastião da Gama, próprio de quem com o ele, tendo sido atacado pela tuberculose que lhe ceifou a vida no vicejar dos seus 28 anos, desejou enganar-se... e viver mais "três quartos de hora"... e é, esse o motivo que me prendeu desde sempre a este seu desejo de trazer adiantado o relógio, já que o destino lhe atrasou a vida que gostava de ter vivido mais longe, preso ao encanto da Arrábida, Serra mítica à qual muita gente de valor literário, ou não, se têm rendido.
Que pena foi que este seu "Poema da Minha Esperança" escrito a pedir ao destino que não lhe matasse a esperança da cura que não conseguiu para o seu mal, não se tivesse concretizado... tendo morrido cedo com os "três quartos de hora" que segundo o seu relógio viveu a mais...
Como o destino é cruel!
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