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terça-feira, 17 de janeiro de 2017

"Poema da Minha Esperança" - Um poema de Sebastião da Gama

Sebastião da Gama de remos na mão 
vogando nas águas da Arrábida de olhos fitos na Serra-Mãe
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Poema da Minha Esperança

Que bom ter o relógio adiantado!...
A gente assim por saber
que tem sempre tempo a mais,
não se rala nem se apressa.

O meu sorriso de troça,
Amigos!
quando vejo o meu relógio
com três quartos de hora a mais!...

Tic-tac… tic-tac…
(Lá pensa ele
que é já o fim dos meus dias.)

Tic-tac…
(Como eu rio, cá para dentro,
de esta coisa divertida:
ele a julgar que é já o resto
e eu a saber que tenho sempre mais
três quartos de horas de vida.)

Sebastião da Gama
in, “Serra-Mãe”

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Desde que conheci através dos seus livros "O Poeta da Arrábida" - e isto já lá vão umas dezenas largas de anos - este "Poema da Minha Esperança" sempre buliu com os meus sentimentos de tentar enganar a vida, que tenha sido pelas conquistas de mais saúde, quer pelo resguardo que tenho feito - que entendo é um dever humano - mas nunca me ocorreu enganar a vida adiantando o relógio.

Mas entendo o arroubo poético de Sebastião da Gama, próprio de quem com o ele, tendo sido atacado pela tuberculose que lhe ceifou a vida no vicejar dos seus 28 anos, desejou enganar-se... e viver mais "três quartos de hora"... e é, esse o motivo que me prendeu desde sempre a este seu desejo de trazer adiantado o relógio, já que o destino lhe atrasou a vida que gostava de ter vivido mais longe, preso ao encanto da Arrábida, Serra mítica à qual muita gente de valor literário, ou não, se têm rendido.

Que pena foi que este seu "Poema da Minha Esperança" escrito a pedir ao destino que não lhe matasse a esperança da cura que não conseguiu para o seu mal, não se tivesse concretizado... tendo morrido cedo com os "três quartos de hora" que segundo o seu relógio viveu a mais...
Como o destino é cruel!

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