in, Revista "Branco e Negro" d 24 de Outubro de 1897
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Coube a Domitila de Carvalho ter sido a primeira mulher portuguesa a ingressar na Universidade de Coimbra onde se licenciou em Matemática, Filosofia e Medicina, tendo ido buscar ao ramo da Filosofia a sua veia poética que muito a notabilizou no seu tempo, sendo hoje uma figura quase ignorada, lamentavelmente, porquanto, para além das suas funções docentes e de deputada à I Legislatura do Estado Novo - sem esconder o seu pendor monárquico - foi uma notável poetisa, cujo ostracismo literário se deve ao apoio que deu ao salazarismo nascente, um "pecado" que a élite actual não perdoa.
Neste soneto de que se apresenta o fac-símile, Domitila de Carvalho demonstra uma paixão frustrada e di-la sem rancores escondidos ou, o que seria bem pior, exalando perfumes de ódio, mas antes, o de um desejo não conseguido de pedir à Virgem, para quem lhe causou amargores, tanta ventura, quanta eu desejei, doce ilusão... para no fim, num desabafo da alma - compreensível - dos seus lábios o que saiu, foi um gemido filho de uma dor sofrida em vez do nome por quem queria pedir à Virgem...
Humano no sentimento este soneto da poetisa é o retrato fiel de tantas desilusões que todos temos - homens e mulheres neste desfiar da vida - onde cabe às mulheres o quinhão maior das desilusões porque todas têm um coração mais dócil e, logo, por um desígnio da Natureza, mais propenso a dar do que a receber, pelo que ficam mais sujeitas às desilusão dos amores.
Domitila de Carvalho nunca casou... e eu fico a pensar se a desilusão sentida e de que nos dá conta neste soneto, não foi a causadora... porque, é ela que o diz na oração que quis fazer à Virgem - pedindo pelo homem que a desiludiu - e o seu nome não saiu com todas as suas letras... e em vez dele saiu uma queixa... um gemido em que a alma falou num tempo em que apesar de ser uma jovem, a desilusão a teria marcado para o resto da vida.
Que a alma de Domitila me perdõe se estou a exorbitar!
Que a alma de Domitila me perdõe se estou a exorbitar!
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