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segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Raízes!

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Ali, é certo, as grandes árvores eram por vezes tombadas por setecentos anos de vida poderosa, ou arrancadas pelo furacão, ou queimadas pela neve, ou destruídas pelo incêndio. Senti muitas vezes cair na profundidade da floresta as árvores titânicas: o roble que tomba com estrondo de catástrofe surda, como se batesse com mão colossal às portas da terra pedindo sepultura. As raízes, porém, ficavam a descoberto, entregues ao tempo inimigo, à humidade, aos líquenes, ao aniquilamento progressivo.

Nada mais belo que aquelas grandes mãos abertas, feridas e queimadas, que numa vereda do bosque nos indicam o segredo da árvore enterrada, o enigma que a folhagem mantinha, os músculos profundos do domínio vegetal. Trágicas e hirsutas, mostram-nos uma nova beleza: são esculturas da profundidade — obras-primas secretas da natureza.
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in, "Confesso que Vivi"
Pablo Neruda
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Sempre que leio este belo trecho de Pablo Neruda - que em tempos mão amiga me mandou emoldurado com a sugestiva foto - deixa-me a pensar se o que ele tem de mais belo é a escultura da Natureza prefigurada nas raízes da velha árvore tombada, ou se é, a escultura imaterial da palavra do escritor que pelo rendilhado das frases, de modo algum perde beleza perante a beleza daquela, pela descrição que nos deixou daquelas grandes mãos abertas que mantinham viva a folhagem através das esculturas da profundidade onde a velha árvore, que teimando em viver mergulhava as suas raízes no húmus do chão.

E, depois, não deixo de pensar na força humana que agarra a vida até à última centelha, tal com as raízes da velha árvore que Pablo Neruda exalta... e são, como ela, raízes resistentes, como aconteceu com o velho amigo que me mandou o pequeno texto do Poeta chileno, que tal qual aquela àrvore, tombou vencido, mas deixou ficar no chão da vida as suas raízes imateriais que continuam a dar vida à beleza da sua memória.

É para ela que, comovidamente, fica este apontamento, na certeza que tenho, que as raízes que deixou hão-de continuar a aviventar a "àrvore" que ele foi na "floresta humana" dos seus muitos amigos!

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