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sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

A verdade...



De simples significado a verdade, de acordo com os filólogos é aquilo que está intimamente ligado a tudo que é sincero, que é verdadeiro, que é a ausência da mentira e, no entanto, nenhuma palavra tem oferecido ao homem mais engulhos e mais hesitações em perceber a sua real identidade de significação real e objectiva, pela simples razão da complexidade humana gostar de se  esconder sob artifícios que desfigurando-a, a tem desconfigurado ao longo dos séculos nas suas relações sociais ou familiares,

Leiamos Antero de Quental, que foi um filósofo para além do grande Poeta que foi:

Se é lei, que rege o escuro pensamento
Ser vã toda a pesquisa da verdade,
Em vez da luz achar a escuridade,
Ser uma queda nova cada invento;

É lei também, embora cru tormento,
Buscar, sempre buscar a claridade,
E só ter como certa realidade
O que nos mostra claro o entendimento.

O que há de a alma escolher, em tanto engano?
Se uma hora crê de fé, logo duvida;
Se procura, só acha... o desatino!

Só Deus pode acudir em tanto dano:
Esperemos a luz duma outra vida,
Seja a terra degredo, o céu destino.

Antero de Quental, in, "Sonetos"

Ser vã toda a pesquisa da verdade, diz Antero de Quental no segundo verso deste soneto, para depois, declarar que Só Deus pode acudir em tanto dano, o que pressupõe, não tendo sido o grande Poeta um deísta convicto, que ele, apesar disso, tinha de Deus a sensação perfeita que só a Ele competia vir em auxílio do homem que procura, no mundo a explicação humana da filosofia da verdade, cuja revelação aos homens e a sua aceitação como princípio condutor da vida pertenceu Àquele que disse: Eu sou o Caminho a Verdade e a Vida.

Relata S. João (18, 33-38) que estando Jesus defronte do governador romano Pôncio Pilatos, os dois tiveram este diálogo:: Tu és rei dos judeus? Respondeu-lhe Jesus: Tu perguntas isso por ti mesmo, ou porque outros to disseram de mim? Pilatos replicou: Serei eu, porventura, judeu? A tua gente e os sumos sacerdotes é que te entregaram a mim! Que fizeste? Jesus respondeu: A minha realeza não é deste mundo; se a minha realeza fosse deste mundo, os meus guardas teriam lutado para que Eu não fosse entregue às autoridades judaicas; portanto, o meu reino não é de cá. Disse-lhe Pilatos: Logo, Tu és rei! Respondeu-lhe Jesus: É como dizes: Eu sou rei! Para isto nasci, para isto vim ao mundo: para dar testemunho da Verdade. Todo aquele que vive da Verdade escuta a minha voz. Pilatos replicou-lhe: Que é a verdade?

Vejamos a cena:

Frente a frente dois homens totalmente diferentes. Um político, desejoso de agradar a quem lhe dera o poder. O outro, Alguém que viera por mão divina para conduzir o povo ao entendimento da Verdade que Ele personificava sem subterfúgios, desprezando o poder, honras, riquezas ou prestígio.
Na réplica a Jesus que dissera que viera para dar testemunho da Verdade, Pilatos fez de conta que não ouviu aquela asserção e retirou-se da sala de audiência, deixando no ar a inquietante pergunta, Que é a verdade? como se, para ele, dono e senhor daquele pequeno mundo onde reinava, a verdade fosse a do Império Romano de que era súbdito, ou seja, a verdade da força e não a que ouvira de Jesus.

Infelizmente, o conceito de Pilatos não é incomum no mundo em que vivemos e até parece que a verdade é algo de relativo, ou seja, o que alguém considera como verdade para si, pode não ser assim para o outro e, portanto, nesta ambiguidade de critérios podem estar "certos" os dois neste malfadado relativismo em que vivemos, quando a verdade é, apenas uma e se encontra balizada no divino conceito das Leis Eternas que uma grande parte dos homens não seguem, pelo comodismo de preferirem as suas imprecisas verdades.

E é aqui, que se entende o que Antero de Quental que dizer quando refere que Só Deus pode acudir a tanto dano, provando tudo isto - e Pilatos - ajuda-nos a concluir, que desde que o homem pensou, o seu espírito lutou incessantemente por descobrir verdade, mas se a continuar a ver, apenas pelo lado humano, vai continuar a acontecer que jamais verá equilibrados os pratos da balança onde se defrontam a certeza e a dúvida.

Resta ao homem pensar nisto: 

Se Deus - numa abstracção - tivesse fechada na sua mão direita a Verdade absoluta e na sua mão esquerda o esforço para a conseguir e nos desse a escolher, mandaria o razoável que fosse escolhida a sua mão esquerda, pela razão que a Verdade absoluta só a Ele pertence e ao homem pertence o esforço de a alcançar, porquanto, se fossem assim os propósitos sinceros dos homens, certamente, que religião, moral e ciência seriam mais complementares entre si que as vãs conquistas da verdade que julgamos ter, sem  a ter.

E, de novo, Antero de Quental, impõe a sua leitura:

Se é lei, que rege o escuro pensamento
Ser vã toda a pesquisa da verdade,
Em vez da luz achar a escuridade,
Ser uma queda nova cada invento;

Eis, porque, enquanto os homens não entenderem o que diz Antero de Quental, fazendo valer como lei que rege o escuro pensamento - dos homens que julgam ter a verdade presa na sua mão, o que vai continuar a acontecer, se estes não se centrarem na única Verdade anunciada por Jesus Cristo a mando de Deus, vai continuar a Ser vã toda a pesquisa da verdade, e por mais que se afadiguem em inventar "verdades", cada invento, não passará de mais uma queda no precipício humano das vaidades em que as supostas "verdades" enchem o alforje dos relativismos morais, cívicos e desumanizados que enchem a vida, não de saídas, mas de alfurjas onde falta o ar puro da Verdade.

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