O MEU CONDADO
No campo azul da alada fantasia
Edifiquei outrora, por meu mal,
Castelos de oiro, esmalte e
pedraria,
Torres de lápis-lazúli e coral.
Numa extensão de léguas, não
havia
Quem possuísse outro domínio
igual:
Tão belo, assim tão belo,
parecia
O território de um senhor
feudal...
Um dia (não sei quando, nem dei
donde),
Um vento agreste de indiferença
e "spleen"
Lançou por terra, ao pó que tudo
esconde,
O meu condado — o meu condado,
sim!
Porque eu já fui um poderoso
conde,
Naquela idade em que se é conde
assim...
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Há em toda a poesia de António Nobre um cunho saudosista de mistura com o simbolismo que ele viveu junto das suas origens nortenhas, no qual ele funda com o seu arado de fino recorte num terreno que a doença ajudou a refinar, sentimentos de criança que nunca abandonou ao longo da sua curta vida.
Há, com efeito, neste condado fantasioso ressaibos da sua meninice em que na idade dos sonhos próprios da idade, em que se não sonhamos com realezas, sonhamos com condados, porquanto uma e outra coisa, são apenas, o fruto da idade dos sonhos que se julgam possíveis de alcançar e nos quais, a realidade nos mostra que para a realeza ou para os condados sonhados, a vida, o que nos dá, tantas vezes, é o contrário do sonho.
António Nobre - que viveu apenas 33 anos - sentiu isso e di-lo com frontalidade, sem mascarar a realidade existencial que nele ganhou a batalha contra as suas fragilidades humanas que cedo cederam perante um inimigo, forte demais que não foi capaz de vencer.
Um dia (não sei quando, nem dei donde),
Um vento agreste de indiferença e "spleen"
Lançou por terra, ao pó que tudo esconde,
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