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terça-feira, 26 de janeiro de 2016

O meu velho "Cine-Royal"!

in, "Restos de Colecção" - captação de imagens, com a devida vénia
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Recordo-me...

Era, então, um adolescente, morador do Bairro da Graça, tendo quase à mão este antigo cinema que preencheu - e muito - a minha mocidade, quando, com os outros da minha igualha e como eu, estudantes-trabalhadores, aos sábados combinávamos a ida "ao nimas", normalmente na sessão da noite, naquele local mítico que exibia com orgulho o facto de ser o cinema que estreou em Lisboa o primeiro sonoro da Cidade.

Um dos arrumadores - nome vulgar que era dado aos empregados que conduziam aos lugares os espectadores - era pai do um amigo meu que Deus já chamou, e que se encarregava, antecipadamente de reservar lugares para o grupo, dado que naquele tempo, acontecia muitas vezes que os 900 lugares repartidos entre a 1ª e 2 plateias, balcão e camarotes, esgotavam.

Recordo-me...

Corria o dia 3 de Março de 1976 quando foi realizada a última sessão cinematográfica no "Cine-Royal" com o filme "Voluntários à Força" e tanto bastou para reunir os que, do velho grupo puderam estar presentes, para, saudosamente vermos fechar a porta da frontaria onde a estrela que encima o frontão - a marca do seu proprietário Agapito Serra Fernandes - ficou ali sem o brilho dos dias antigos da minha juventude que, muitas vezes, calcorreou a Rua Senhora do Monte, vizinha do miradouro do mesmo nome, para ver e admirar meia-Lisboa.

Recordo-me...

E dou graças a Deus por isso, quando passo pela Rua da Graça e ao olhar a fachada que denota nos traços que lhe deu o seu autor, Arq. Norte Júnior, um encanto que nunca lhe soube ver na minha juventude, como ela na pureza das suas linhas dentro do estilo arte-nova, continua a ser a marca indelével do meu velho "Cine-Royal", hoje, descaracterizado e onde se calou para sempre o barulho característico da velha máquina projectora de tantos filmes que me encantaram!

Recordo-me...  

Recordo-me da velha rapaziada.
Dos tempos em que ir "ao nimas" era um festa que ás vezes acabava dentro do velho edifício, no bar onde gastávamos as parcas moedas nos "pirolitos" de saudosa memória, pela esbelteza da garrafa, a que alguns chamavam - o frasco da bola -  mas sobretudo pelo sabor gaseificado do líquido contido hermeticamnete pela tal bola de vidro, que era usada como berlinde quando as garrafas se partiam... ou a nossa traquinice as partia para recolher as bolas...

Recordo-me...

E lamento que o meu velho "Cine-Royal" esteja transformado numa área comercial de uma cadeia de bens alimentícios, dando a tão belo edifício um destino tão diverso e onde os filmes que passam, são hoje, os filmes sem graça de muitos que entram e saem com desejo de comprar aquilo que não podem!

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