Um texto de Miguel Torga no seu "Diário XIV".
Coimbra, 20 de Janeiro de 1983 - Curei-o há vinte anos de uma otite. Era então um campónio como tantos, ignorante e resignado à condição. Mas um dia acordou do letrago em que vivia e partiu. Veio hoje visitar-me. e ouvi-o boquiaberto durante horas. Contou das suas aventuras, discreteou sobre política nacional e internacional, falou profeticamente do futuro. Enquanto o escutava, não parei de pensar. Que praga será esta, que só prestamos quando saímos daqui? Mudamos de terra e mudamos de alma. Em vez de emigrar, transmigramos.
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O português transmigra, diz Miguel Torga e o sentido da palavra está bem explícito na tal mudança da alma, como se ela só por ter conhecido novos mundos tivesse ganho uma alma nova, como ele sentiu naquele seu antigo doente que regressou cheio de cultura e novidades.
No tempo em que Miguel Torga escreveu no seu "Diário" a visita recebida do seu antigo doente - presumivelmente, no seu consultório médico de Coimbra - haviam passado 9 anos sobre a Revolução de 1974, deixando o seu escrito a dura realidade de Portugal, relativamente à emigração, porquanto, os novos tempos dos amanhãs que cantam um tema preferido dos baladeiros da época - foram como se sabe uma ilusão criada ao povo, com a conivência das autoridades, pois os tais pregões de tão vazios que estavam não tinham substância em portanto, na época, como hoje acontece, Portugal não tem conseguido fixar em Portugal os seus filhos.
É um mal antigo que Miguel Torga sofreu na pele, porque, em 1920 com 13 anos de idade se viu emigrado para o Brasil (Minas Gerais) a trabalhar numa fazenda de um seu familiar, a sua alma transmontana - sem nada ter perdido do solo amado de S. Martinho de Anta que o viu nascer, bem cedo se viu transmigrada na alma nova que o acompanhou por toda a vida e lhe abriu novos horizontes que ele, sabiamente, soube reproduzir na sua obra literária.
Emigrado em terras brasileiras e de que dá conta na sua obra "A Criação do Mundo", se o saldo não lhe pareceu positivo pelo facto de ser um adolescente desenraizado e a crescer longe do carinho dos pais e do ambiente geográfico que naturalmente faz reflectir na pessoa a natureza do meio que lhe é mais próximo, mais tarde, passado o que ele sofreu em menino e moço, Miguel Torga reconheceu, naquele doente, a alma nova como ele se lhe apresentou, como se no seu próprio corpo a alma se tivesse transmigrado.
Mudamos de terra e mudamos de alma, E em vez de emigrar transmigramos, concluiu Miguel Torga, parecendo que só prestamos quando saímos de Portugal, como ele afirma.
No tempo em que Miguel Torga escreveu no seu "Diário" a visita recebida do seu antigo doente - presumivelmente, no seu consultório médico de Coimbra - haviam passado 9 anos sobre a Revolução de 1974, deixando o seu escrito a dura realidade de Portugal, relativamente à emigração, porquanto, os novos tempos dos amanhãs que cantam um tema preferido dos baladeiros da época - foram como se sabe uma ilusão criada ao povo, com a conivência das autoridades, pois os tais pregões de tão vazios que estavam não tinham substância em portanto, na época, como hoje acontece, Portugal não tem conseguido fixar em Portugal os seus filhos.
É um mal antigo que Miguel Torga sofreu na pele, porque, em 1920 com 13 anos de idade se viu emigrado para o Brasil (Minas Gerais) a trabalhar numa fazenda de um seu familiar, a sua alma transmontana - sem nada ter perdido do solo amado de S. Martinho de Anta que o viu nascer, bem cedo se viu transmigrada na alma nova que o acompanhou por toda a vida e lhe abriu novos horizontes que ele, sabiamente, soube reproduzir na sua obra literária.
fac-simile do passaporte de Miguel Torga, in, Fotobiografia de Clara Rocha
Mudamos de terra e mudamos de alma, E em vez de emigrar transmigramos, concluiu Miguel Torga, parecendo que só prestamos quando saímos de Portugal, como ele afirma.
- Porque será, que em Portugal a alma vive "estrangeirada" e só se encontra verdadeiramente nacional, na distância para onde emigrou?
- Que praga é esta, efectivamente, que hoje como ontem, continua a ser verdade na alma dos portugueses que, por um qualquer fatalismo se sentem pessoas acarinhados nas terras distantes e mal-amados na sua terra?
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