OS INCÊNDIOS DE PAMPILHOSA DA SERRA
de 15 de Outubro de 2017
in, 24.sapo.pt de 17 de Outubro de 2017
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No Domingo passado, dia 15 de Outubro o vasto território do Conselho de Pampilhosa da Serra com todos os seus meios (catorze viaturas e 57 operacionais) viu-se na emergência de combater um fogo imenso que abrangeu quase os 400 Km2 da sua superfície e as suas 60 localidades, entre as quais, a da minha aldeia natal, onde arderam ou ficaram danificadas 15 habitações do seu edificado.
Valeu a chuva que caiu como uma bênção do céu, pois se assim não fora tinha ardido todo o Concelho.
É inadmissível que o Estado tenha abrandado em 1 de Outubro as capacidades operacionais de combate aos incêndios florestais, quando tudo fazia prever, conforme indicações do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) a continuação do tempo quente - como se fora a extensão fora de tempo do Verão - pelo que, o executivo do Estado que representa a defesa civil de todos os portugueses tem de merecer destes uma acérrima censura.
E agora?
Como o chefe do executivo do Estado entende que não deve demitir a responsável máxima do MAI - que entende que as comunidades devem ser "mais resilientes" e o seu secretario de Estado "mais pró-activos", resta, assim, mais uma vez, erguermos a cabeça e esquecer quem disse tais coisas, como se o interior do País - falo da minha Beira Baixa e, concretamente, do meu Concelho de Pampilhosa da Serra - desertificado e abandonado pelo Poder central há muitas dezenas de anos, desde os tempos do Estado Novo, não tenha feito outra coisa senão o de ser resiliente, superando com a sua força o esquecimento a que tem sido votado, tendo-lhe valido a força e o querer obstinado das suas gentes unidas em "Comissões de Melhoramentos" que tiveram - e ainda têm - o pendor de acordar o Poder central, que por mais incrível que pareça, tem sido em tempos da jovem Democracia que temos, mais "sonolento" e mais distante deste quinhão de Portugal.
E é, por este tempo madrasto que recorro a Miguel Torga, que no seu livro: PORTUGAL , no capítulo - A BEIRA - num dado passo diz o seguinte quando enaltece os seus naturais que a par da prudência como vivem a suas vidas, costumam aliar "a um bairrismo descabelado" as qualidades humanas que "tornam o beirão capaz de uma tal ubiquidade humana, que ao mesmo tempo que moureja na América colabora activamente na construção do fontanário da sua terra. Há juntas de melhoramentos duma aldeola que têm o presidente e os sócios a milhares de quilómetros noutro continente".
Sei do que falo, porque embora, mais perto, num dado tempo exerci as funções de presidente da "Liga de Melhoramentos" da minha aldeia natal.
Eis, porque, "reslientes" e "próactivos" que somos dispensamos que os membros deste governo que encabeçam o Ministério da Administração Interna" (MAI) nos venham pedir - no nosso caso concreto - aquilo que somos e de que deram mostra no passado Domingo, dia 15 de Outubro, os Bombeiros de Pampilhosa da Serra que herdaram dos seus maiores - heróis da Serra - a força de serem "resilientes" e "pró-activos", no combate a um fogo contra o qual se sentiram desamparados e esquecidos pelo Poder central que não cuidou a tempo de os ajudar, tendo dado por finda a "fase Charlie" (1 de Julho a 30 de Setembro) para a substituir pela "fase Delta" (1 a 31 de Outubro), quando tudo indicava que a força da secretaria ia retirar - como retirou - meios de combate aos previsíveis incêndios tivessem eles a origem que tivessem.
E é, por isso, que eu condeno este governo que tão mal governou este tempo invulgar - é certo - mas que de via ter merecido mais atenção.
De que valeu cumprir o calendário e poupar dinheiro se foram ceifadas 37 vidas humanas a que se somam 71 feridos, numa tragédia que poderia ter sido mais acautelada?
Esta é a pergunta que deve se feita!
Esta é a pergunta que deve se feita!
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