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sábado, 3 de setembro de 2016

Uma nota histórica e uma missiva à lembrança de Vasco da Gama


A ÍNDIA PELO OLHAR INTERROGADOR 
DE VASCO DA GAMA  
ESTAVA MUITO LONGE... MAS O SONHO EXISTIA!

in, Revista "O Occidente" de 15 de Junho de 1880
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Dobrado em 1488 o Cabo da lenda do Adamastor que D. João II crismou da Boa Esperança e estando firmado em 1494 com os Reis Católicos de Espanha o Tratado de Tordesilhas, o Rei português - a que a História deu o nome de Príncipe Perfeito - passou a sonhar em garantir para Portugal o acesso à Índia, só não tendo ido mais longe porque em 1495, segundo se crê, morreu envenenado.

Coube a Vasco da Gama que já acompanhara Bartolomeu Dias, em 10 de Fevereiro de 1502, naquele tempo já tendo sido honrado com a doação da vila de Sines e com o título de Conde da Vidigueira, partir de novo a caminho da Índia - ostentando o estatuto de "Almirante dos Mares da Arábia, Pérsia, Índia e de todo o Oriente", comandando uma armada de vinte velas com o fim de implantar um Império comercial no Oriente, como veio a acontecer em resultado da instalação de duas feitorias em Cochim e Cananor onde constrói duas para cada uma das terras conquistadas uma fortaleza, dando início ao Império lusitano do Oriente.

Aportou ao Reino em 10 de Novembro de 1503, com uma carga avultada de especiarias. 


Missiva a Vasco da Gama:

Porque foste tão longe, Vasco da Gama?
Porque submeteste terras estranhas ao teu Rei?
Para quê tanta sede de riquezas, de mando, de poder,
de conquistas de terras, 
se hoje, tudo perdemos?

Para que foste tu, numa segunda viagem
e não ficaste, antes, em Sines a beneficiar 
do teu Dom de Conde da Vidigueira?

Bem sei que assim te ordenaram e não podias dizer não, num tempo em que os portugueses eram quase senhores do Mundo e ainda havia mais Mundos para conquistar e tu, "Almirante dos Mares" quiseste honrar o nome que te deram - e honraste-o -  e, por isso, Portugal jamais te esquecerá, porque tu és um dos nossos maiores.

Mas valeu a pena?

Valeu, Diz Fernando Pessoa e quem sou eu para o desmentir, mas tenho para mim, que hoje, neste tempo obtuso que vivemos, os "Almirantes dos Mares" que temos não se parecem contigo que chegaste a Portugal com uma carga avultada de especiarias, a riqueza da época - enriquecendo-o - enquanto eles em vez de o enriquecerem com as "especiarias" deste tempo, as vão levando para terras estranhas na ânsia de lucros maiores, sem cuidar quer não ajudam a erguer o velho País que um dia, nos primórdios do século XVI te fez, de novo, ir Mar fora sem medo de um novo Adamastor, porque já o tinhas ajudado a vencer.

Mas vê, como hoje, ameaça o velho Portugal que tu tanto honraste um novo Adamastor em pé, em cima de um novo Cabo das Tormentas e vê - meu velho "Almirante dos Mares" - como nos falta quem lhe possa mudar o nome como fez D, João II para Cabo da Esperança - que é uma coisa que nem mesmo para nos iludir, haja quem, coerentemente, o possa fazer porque a Esperança parece ter fugido daquele Portugal que tu serviste...

Culpa nossa, não é, meu velho "Almirante dos Mares"?

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