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sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Reabilitação de Martinho Lutero?


A Venda das Indulgências - Pintura de Augsburg - 1530
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Desde que um dia - já longe - tomei conhecimento e me foi possível reflectir sobre a atitude de Martinho Lutero que a Igreja do tempo pela voz e pelos escritos dos seus mais proeminentes membros a começar pelo Papa Leão X criticaram acerbamente - a ponto de levar o Sumo Pontífice a sacudi-lo da comunhão eclesial -  tal facto não me retirou a fé nem a minha adesão à figura do Fundador da Igreja e à Igreja Católica mas deixou-me a pensar sobre o que aconteceu no dia 3 de Janeiro de 1521.

Naquele dia Lutero foi excomungado a culminar um processo herético começado em 1518 que levou o Papa em 1520 a ameaçar puni-lo sem não renunciasse às suas teses com uma Bula que Lutero queimou e que levou o pregador das indulgências Johann Tetzel a pedir a fogueira para o pregador alemão de Wittenberg, que conseguiu ter a seu lado alguns príncipes europeus desejosos de minar o poder papal, de que ressaltou o príncipe saxão Frederico III - o Sábio - que o escondeu no castelo de Wartburg onde Lutero traduziu para alemão o Novo Testamento.

Não teria sido por ter tido este apoio, mas consciente da sua obediência a Deus e às Sagradas Escrituras, não o demoveu nem o Papa nem o Imperador do Sacro Império Romano-Germânico Carlos V com a publicação em 25 de Maio de 1521 do Édito de Worms que proibiu os seus escritos, rotulando-o como inimigo do Estado

Firme nas suas 95 teses que defendiam a promoção de uma reforma da Igreja Romana, Lutero defendia ter encontrado nos Livros Sagrados a chave que abria a porta da relação dos homens com Deus através de uma reinterpretacão  que advogava era o "primado da Escritura", Jesus Cristo "primado de Cristo" e a Misericórdia Divina "primado da Misericórdia e da Fé"



Não podemos nem devemos julgar o Papa Leão X e aqueles que comungaram com ele na excomunhão de Lutero, sem que tenhamos presente o tempo em que isto aconteceu, devendo ter-se em conta que são os tempos e as vicissitudes que lhe são próprias que estão na origem de actos que não podem ser julgados à luz dos tempos que passam.

A realidade sendo outra, levou o Papa emérito Bento XVI quando visitou a Alemanha em 2011 a prestar uma homenagem a Lutero ao enfatizar a sua paixão profunda pelas coisas de Deus, levantando algo do véu de sombra que cobria o promotor da Reforma Protestante ao fazer um gesto simbólico de aproximação com os protestantes de Erfurt, local onde surgiu o movimento, num discurso pronunciado no Convento dos Agostinianos onde Lutero viveu seis anos.

Sem abordar as diferenças entre as duas Igrejas, Bento XVI acentuou que o mais necessário para o ecumenismo era que "sob a pressão da secularização, não percamos quase despercebidamente as grandes semelhanças, que são as que nos fazem realmente cristãos".

Com a aproximação dos 500 anos da Reforma o Papa Francisco visitou a Igreja Luterana de Roma, acto que levou a Rádio Vaticana a publicar a notícia de onde se transcreve este excerto:

 Um novo sinal da crescente comunhão entre católicos e luteranos foi a oração comum e o encontro entre católicos e luteranos no contexto da visita pastoral do Papa Francisco à comunidade evangélica-luterana de Roma, na tarde do domingo 15 de novembro de 2015. Francisco é o terceiro Pontífice a realizar uma visita à paróquia luterana de Roma. Em março de 2010, o Papa Bento XVI havia ali celebrado Vésperas ecumênicas e, em 1983, por ocasião do 500º aniversário de nascimento de Martinho Lutero, São João Paulo II havia visitado a Igreja de Cristo para um momento de oração comum. O Secretário Geral da Federação Luterana Mundial, Rev. Martin Junge, em um comentário divulgado em vista da comemoração da Reforma em 2017, falou da visita do Papa Francisco como um encorajamento dirigido aos fiéis católicos e luteranos para que prossigam o caminho "do conflito à comunhão", como diz o título do documento da Comissão luterano-católica para a unidade, preparado para a comemoração comum da Reforma: "Foi bonito observar que o Papa  exortava tanto os fieis católicos quanto os fieis luteranos, a considerar o serviço aos pobres como a missão mais importante. Na oração comum, Cristo, aquele se serve, se manifestará como o centro desta unidade. Esta é a promessa".

"Do Conflito à Comunhão" é o nome do Documento que se julga venha a ajudar à reabilitação do monge alemão e no qual, sem hesitações existe a confissão de culpa comum diante de Cristo pelo facto de se terem rompido a unidade da Igreja, não deixando de ser conclusiva a opinião do Papa Francisco de Martinho Lutero ter sido um "reformador", num tempo em que a Igreja não era o modelo de virtudes evangélicas que é hoje.

Estas asserções poder-se-ão retirar das afirmações do Papa Francisco, no regresso da Arménia que visitou no mês de Junho de 2016, onde disse:

“Acredito que as intenções de Lutero não tenham sido erradas, era um reformador, talvez alguns métodos não foram correctos, mas naquele tempo, se lemos a história do Pastor – um alemão luterano que se converteu e se fez católico – vemos que a Igreja não era precisamente um modelo a imitar: havia corrupção, mundanismo, apego à riqueza e ao poder”, tendo afirmado que Lutero era  inteligente” e “deu um passo adiantee sem se eximir a afirmar que, “Hoje protestantes e católicos estamos de acordo na doutrina da justificação: neste ponto tão importante não havia errado. Ele fez um remédio para a Igreja, depois esse remédio se consolidou em um estado de coisas”, sem contudo, deixar bem claro, a critica divisionista e uma proposta de afirmação:  “A diversidade é o que talvez nos fez tanto mal a todos e hoje procuramos o caminho para encontrar-nos depois de 500 anos. Eu acho que o primeiro que devemos fazer é rezar juntos. Depois devemos trabalhar pelos pobres, os refugiados, tantas pessoas sofrendo, e, por fim, que os teólogos estudem juntos procurando… Este é um caminho longo.”

Longo é, de certeza, mas o Espírito Santo, um dia, dará essa graça à unidade plena de católicos e protestantes.

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