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sábado, 3 de setembro de 2016

Contraditório Ernest Renan?

in, Revista "O Occidente" de 1 de Novembro de 1892
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No dia 1 de Novembro - dia em que a Igreja Católica celebra a Festum Omnium Sanctorum (Festa de Todos-os-Santos) a Revista "O Occidente" que marcou a cultura portuguesa com o seu labor jornalístico, apresentou na sua capa a gravura de Ernest Renan, um figura controversa que tendo iniciado os seus estudos num colégio eclesiástico da sua terra natal  - Tréguier - e depois de os ter continuado em Paris, no Seminário de Saint-Sulpice, entrou em crise com a exegese bíblica de que resultou em 1883 a publicação do seu primeiro livro onde dá conta da sua "crise religiosa".

Tinha 21 anos.
Depois trilha o caminho que é sabido.

Em 1860-61 concebe a obra a "Vida de Jesus" que não tardou nos anos 1864-65 em tornar-se um dos livros mais célebres do século XIX, traduzido rapidamente em todas as línguas, cabendo-lhe a façanha de ter sido o primeiro francês a tornar conhecida uma opinião que grassava na Alemanha segundo a qual a vinda ao Mundo de Jesus Cristo não tinha a intervenção sobrenatural que lhe era dada, negando veementemente todo o Mistério da sua Origem.

Filólogo, publicou um livro da História Geral das Línguas Semíticas e muito embora tivesse deixado de crer em Deus como Pai espiritual de Jesus, tal facto não o inibiu de traduzir três livros bíblicos do Antigo Testamento: Job, o Cântico dos Cânticos e o Eclesiastes, que lhe valeram críticas nos círculos ateus e agnósticos, tendo outros livros, como: a "História de Israel" sido bem aceites, tratando sempre de deixar a marca fundamental do seu pensamento de um racionalista radical que nunca deixou de assinalar o seu fundo anti-clerical e anti-católico, onde nunca houve lugar para o Milagre da Revelação.

Mas é de notar que no livro "A Vida de Jesus" (Origens do Cristianismo) - primeiro volume -  na Dedicatória que ele faz à memória de sua irmã Henriqueta,  começa por dizer: Lá no seio de Deus onde repousas (...), para logo a seguir na "Introdução" após explanar o plano da obra que constaria de quatro volumes, dizer o seguinte: O primeiro, que dou hoje à luz pública, versa particularmente sobre o facto que serviu de ponto de partida ao culto novo; ocupa-o a pessoa sublime do fundador. (...), para depois, de forma radical dizer que o fundador do culto novo não veio ao Mundo como uma divindade.

Eis, porque, e fazendo valer parte da notícia da Revista "O Occidente" do dia 1 de Novembro de 1892, que diz: Negar a divindade de Jesus e adorar a sua doutrina é incontestavelmente uma contradição, mas a filosofia levou-o a ela, mas isto não ofusca o génio de Renan, porque ele foi um intelectual brilhante, que muito embora tivesse bebido nas ideias voltarianas tão em moda no seu tempo, não deixou de ser um homem que procurou nas dobras do incognoscível a parte encoberta que sempre existirá e, por certo, naquele antigo Dia de Todos-os-Santos, o Deus Eterno ter-se-á lembrado deste seu filho rebelde, mas que procurou ao longo da vida a parte que lhe fugiu e que apenas pode ser encontrada pelos que aceitam o sobrenatural que só tem resposta no seio de Deus.

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