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quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Uma bela e comovente Oração.

Há já muitos anos recebia em minha casa o "REINO", uma publicação a que o seu autor dedicava muito do seu saber apostólico que lhe advinha em grande parte de ser um visitador das cadeias - de homens e mulheres - a quem levava a sua estima e a voz serena da ordenação sacerdotal que recebera.

Um dia - e por isso desejo falar das suas palavras construtoras de vida - no tempo em que corria o ano de 1985, guardei carinhosamente esta Oração de uma reclusa:

Perdão Senhor!
Embora bem intencionado nem sempre acertei…
Eu queria ser flor…  e fui espinho…
Queria ser sorriso… e fui mágoa.
Queria ser luz… e fui trevas.
Queria ser estrela… e fui eclipse.
Queria ser contentamento… e fui tristeza.
Queria ser amiga… e fui adversária.
Queria ser força… e fui fraqueza.
Queria ser amanhã… e fui ontem.
Queria ser paz… e fui guerra.
Queria ser vida… e fui morte.
Queria ser sol… e fui escuridão.
Queria ser calma… e fui tumulto.
Queria ser sobrenatural… e fui terrena.
Queria ser lenitivo… e fui flagelo.
Queria ser amor… e fui decepção.

Recebe, Senhor, em Tuas mãos de misericórdia e perdão infinito, o gosto amargo e contrito desta que te ofendeu tanto e tanto pecou, mas procura em Ti, Senhor, força, fé, coragem e esperança na vida futura!


Extraordinária Oração é esta!

Exemplo de como é possível rezar a Deus falando com Ele e sem obedecer às Orações dos Catecismos - bonitas, é certo - mas sem terem, como esta, a alma a falar e, por isso, numa anotação que então fiz e agora reproduzo, escrevi o seguinte: 

Esta Oração da reclusa que pela suas culpas perdeu a liberdade e aguarda na prisão a paga à sociedade dos seus desvarios, serve-me de ponto de partida - que às vezes ando à procura de palavras bonitas para rezar ao Senhor - quando aquilo que é preciso é deixar o coração falar, dizendo palavras correntes mas que transmitem o sentimento da alma.

E, hoje, que já passaram tantos anos, sinto que as palavras daquela reclusa continuam exactas, profundas e belas, sobretudo pela expressão do seu humanismo, e, como tal, servem de exemplo pela profundidade em que o conhecimento da culpa tem de continuar a ser pelo devir de qualquer tempo, o modo mais natural e singelo de como, mesmo, todo aquele ou aquela, estando privado das sua liberdade, pode libertar-se da cadeia física e chegar a Deus com a sobrenaturalidade que nunca ninguém perde e voar para Ele nas asas que, pelo seu nascimento, recebeu do Pai Eterno.

No fim do apontamento que foi publicado em 26 de Março de 1985, deixei, com amor, estas palavras finais: 

Obrigado, minha irmã reclusa. Obrigado!

E, hoje, que já passaram tantos anos, renovo o meu obrigado, por aquilo que aquela bela Oração me transmitiu e ensinou.

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