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sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Povo que lavas no rio...



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Esta poesia de Pedro Homem de Melo que ele intitulou - POVO - é a imagem perfeita de um homem que amou o povo de Portugal no seu folclore genuíno de que ele foi um grande estudioso e divulgador, tendo sido por amor a essa causa que foi um criador e patrocinador de vários ranchos folclóricos minhotos, tendo-lhe cabido a honra de ter sido o feliz autor e apresentador de um programa na então Rádio Televisão Portuguesa (RTP) no decorrer dos anos 1960 a 70, onde deixou a sua marca, ainda hoje lembrada pelos telespectadores daquele período temporal.

Fiel ao seu lar paterno, nunca desmereceu na sua índole os ideais bebidos na infância que o acompanharam em todo o percurso da vida, finda em 1984, tendo deixado nos seus poemas muito do lirismo que foi buscar ao povo que o estimava, sentindo-se estimado por ele, tendo deixado nas suas poesias esse reflexo.

A sua obra, por este facto, não devia merecer o esquecimento a que foi votada por uma elite da cultura portuguesa que só vê génios nos que alinham pela sua cartilha, como se o facto de ter pertencido como membro aos Júris dos prémios do Secretariado da Propaganda Nacional e subdelegado do Procurador Geral da República, tivessem sido ferretes que não podiam ser entendidos à luz dos novos tempos, sem cuidar que ele foi, para além da advocacia que exerceu, professor de português nas Escolas Técnicas, hoje abolidas, porque os novos tempos só querem formar licenciados...

Esquece-se, assim, culturalmente, este exímio Poeta portuense que fez de Afife a sua terra de eleição, colaborador de revistas já extintas como a "Presença" e "Altura" e do semanário "Mundo Literário", por onde espraiou a sua arte poética de que se deixam aqui, três breves apontamentos.

 Pátria

 A Pátria não é apenas
 Um corpo de bailador.
 Não são duas mãos morenas
 Nem mesmo um beijo de amor
 Mais do que os livros que lemos,
 Mais que os amigos que temos,
 Mais até que a mocidade,
 A Pátria, realidade,
 Vive em nós, porque vivemos.

 in "Eu Hei-de Voltar um Dia"


 Cisne

 Amei-te? Sim. Doidamente!
 Amei-te com esse amor
 Que traz vida e foi doente...

 À beira de ti, as horas
 Não eram horas: paravam.
 E, longe de ti, o tempo
 Era tempo, infelizmente...

 Ai! esse amor que traz vida,
 Cor, saúde... e foi doente!

 Porém, voltavas e, então,
 Os cardos davam camélias,
 Os alecrins, açucenas,
 As aves, brancos lilases,
 E as ruas, todas morenas,
 Eram tapetes de flores
 Onde havia musgo, apenas...

 E, enquanto subia a Lua,
 Nas asas do vento brando,
 O meu sangue ia passando
 Da minha mão para a tua!

 Por que te amei?
- Ninguém sabe                        
 A causa daquele amor
 Que traz vida e foi doente.

 Talvez viesse da terra,
 Quando a terra lembra a carne.
 Talvez viesse da carne
 Quando a carne lembra a alma!
 Talvez viesse da noite
 Quando a noite lembra o dia.

— Talvez viesse de mim.
 E da minha poesia...

in "Adeus"


Fado

Porque é que Adeus me disseste
Ontem e não noutro dia,
Se os beijos que, ontem, me deste
Deixaram a noite fria?

Para quê voltar atrás
A uma esperança perdida?
As horas boas são más
Quando chega a despedida.

Meu coração já não sente.
Sei lá bem se já te vi!
Lembro-me de tanta gente
Que nem me lembro de ti.

Quem és tu que mal existes?
Entre nós, tudo acabou.
Mas pelos meus olhos tristes
Poderás saber quem sou!

in, Fandangueiro
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Como acontece, tantas vezes, os homens deixam marcas materiais e espirituais nos locais que lhe serviram de encanto e de abrigo à vida que lhes foi dada viver.
Pedro Homem de Melo não fugiu a isto e, por isso, na terra que muito amou e onde viveu - Afife - lá está este azulejo onde a sua quadra - ETERNIDADE . faz lembrar que é para aí que caminham todos os homens.


Só as fragas se não mudam... mas vão no pensamento, como aconteceu com Pedro Homem de Melo que levou no trânsito da morte o que viu e amou, tendo disso deixado para os vivos a mensagem que a morte não apaga, jamais, aquilo que ficou pregado à alma...

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