«Dai a César o que é de César, e a Deus o que
é de Deus.»
Quando
Cristo deu aos fariseus a célebre resposta, tinha diante dos olhos a Moeda e o
Homem. A moeda, com a imagem de César. O Homem, com a imagem de Deus. A moeda,
sinal e força da Economia, símbolo de toda a ordem material em que César
domina. Cunhada por César, a moeda é de César. Baseada na moeda, a Economia
subordina-se à Política. À esfera política, em que César campeia, foi entregue
por Cristo a esfera económica, a que a imagem de César preside. O mundo das
coisas materiais, que dão de comer aos homens, é um mundo de coisas sem
espírito, em que nenhum César vive. A esse mundo, cujo valor reside no que
significa dos homens, e cuja máxima grandeza lhe é dada pela imagem de César,
tem de estar sobranceiro o mundo dos homens reais, em que a vida circula e
cresce, e em que a imagem de César se retira diante do César pessoal.
A
máxima evangélica, profunda como um abismo, entrega a Economia à guarda e
tutela da Política. E entrega a Política a Deus.
Henrique Barrilaro Ruas - (1921-2003) - in, A Moeda, o Homem e Deus)
Nunca será demais lembrar o pensamento
cristalino deste brilhante professor universitário, ensaísta de grande fulgor,
historiador e político, co-fundador do Partido Popular Monárquico, tendo-se em
conta que ele foi um preclaro pensador que baseou muito do seu saber na cultura
religiosa do Cristianismo, de que é exemplo o excerto que fazemos de um afamado
texto que escreveu, tendo por base a célebre resposta que Jesus disse aos
fariseus, quando estes falsários o quiseram encurralar, como Rubens os retrata
no seu belo quadro que acima se reproduz.
Vale a pena ler e meditar no texto de
Barrilaro Ruas e sentir como o nosso Mundo anda ao avesso do que Jesus - que
não esteve no Mundo para ser político - queria que viesse a acontecer nele a sua tese espiritual, atendendo à prontidão
da resposta, na prossecução da atitude que o Pai lhe cometera e pela qual viveu
e morreu.
Não podemos admitir que Cristo se enganou,
porque todas as Palavras que disse têm o cunho da Verdade que, ou seguimos - e
somos úteis - ou não seguimos - e somos inúteis - porque esquecemos o
essencial: a felicidade de todos os homens, algo que é a sua essência doutrinal.
Para tanto, basta que vejamos o que está a acontecer desde que a
Economia se pôs a conduzir a política, quando devia ser ao contrário: com esta entregue à guarda da política - como assevera o pensador católico a
partir do ensinamento de Cristo - e
a política a Deus, tal como
ele declara sem rodeios, por ter como suporte o mesmo ensinamento divino.
Efectivamente, tudo está do avesso, porque os
homens do Poder passaram a exercê-lo sujeitando-o à Economia e, desse modo, a
prática que levam a cabo em vez de se sujeitar à espiritualidade subordinada a
Deus, subordina-se à sede do mando terreno, por sua vez, sujeitado a uma
Economia sem rosto.
E foi assim, que ao termo-nos esquecido do
recado de Jesus, nós viramos o Mundo ao avesso!
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