Não raro, ouvimos dizer que vivemos numa época sem
valores.
O que é valor? Que significado tem esta palavra?
Por valor, entende-se –
chamando a teoria filosófica - o reconhecimento que ele opera na pessoa quando
se tomam decisões, fazendo dele um elemento a considerar numa escolha ou
orientação que o próprio dá a si mesmo, influindo com ela no comportamento do
outro e da sociedade, como fim último.
Mas isto, posto desta
maneira, é uma bipolaridade de que o homem dispõe e que pode ser usada quer com
sentido positivo, quer como negativo, donde se infere que havendo valores com
sentidos opostos a sociedade que queremos harmónica tem de se distanciar de
algumas modernas correntes relativistas que de um modo arrebatado recusam o
carácter absoluto e objectivo dos valores imutáveis, afirmando que eles – sendo
relativos, como os classificam - dependem dos contextos culturais centrados na
épocas e nos indivíduos concretos que os produzem.
Não entre o homem de peito
feito neste contexto capcioso porque corre o risco de chamar valor àquilo
que é, muitas vezes o seu contrário, ou seja, a negação do que é positivo,
opondo-lhe a mesma palavra – valor - mas com sentido negativo.
Quais são, por isso, os valores que faltam?
Assistimos a uma transformação ou a uma decadência de
valores?
Dir-se-á que as modernas
sociedades vivem com falta de um valor fundamental: o da autenticidade,
perdidos – como nos querem fazer crer - todos os que se apresentam como valores
absolutos com origem no Deus eterno que os criou de uma só vez e para sempre.
Tomando como certo que ao
longo da História os valores estão sujeitos às transformações sociais e das
mentalidades – onde muitos vêem o relativismo das coisas, quando apenas é,
uma mudança de atitude, mantendo-se de
pé a génese – o que se tem escurecido é o bem da existência real desse elemento
fundamental que dá pelo nome de coerência humana e que se perde sempre quando o
homem deixa de ser autêntico, isto é, quando perde o respeito que deve à sua
própria natureza, onde se hierarquizam
valores essenciais, como: os da educação para a saúde do corpo e da
alma, os literários para a estética do conhecimento, a par dos musicais e
artísticos e outros de ordem tecnológica, científicos e técnicos, mas onde não
podem faltar os valores morais da sociologia social imbricados nos valores
transcendentes que dão sentido ao porquê da vida e ao modo como ela modela o
homem na verticalidade do ser que tem de existir, vertical e digno.
É esta falta de autenticidade
que está esvaziando a sociedade que se deixa vencer pelos seus opostos, os
valores negativos, que sendo uma ausência do que é autêntico estão a escravizar
o homem.
A autenticidade é a verdade.
E esta é aquilo que cada
homem deve desejar possuir para si mesmo, vivendo com os valores correctos e à
medida daquilo que cada um pretende para a sua vida, dando-lhe um sentido onde
a realidade palpável viva de paredes meias com os princípios da metafísica
religiosa, sabido que cada homem, é em si mesmo – um mundo – que é preciso
preencher de valores que sejam verdades que ao longo do tempo, tendo, embora,
sofrido as suas transformações não se deixam subjugar ao relativismo de se
viver, consoante as modas e os artifícios da época.
Vale isto por dizer, que
tudo aquilo que agrada aos sentidos do homem moderno são valores, conforme
apregoam, mas porque dependem do modo como são avaliados nem todos devem ser
prosseguidos.
Temos o dever de procurar
viver uma vida digna centrada em valores imutáveis, que são todos aqueles que
se podem deixar envernizar pelo tempo, mas sem nunca perderem as suas origens,
como são, por exemplo, os morais que vão beber à espiritualidade transcendente
que tal como o nome diz, ultrapassam o homem finito.
São estes valores que temos
o direito de preservar e transmitir intactos.
E, ou fazemos isto ou
estamos a correr o risco de entregar aos mais jovens um mundo onde o futuro se
joga no relativismo do momento ou da época, fazendo dos princípios permanentes
não elementos capitais, mas fazendo-os parecer com as roupas que usamos, ou
não, consoante as estações do ano.
No Livro: Cristo ou Marx, J. Paulo Nunes, quando
invoca os erros do marxismo quanto à escala dos valores, avisadamente diz-nos o
seguinte: O marxismo, afirmando que não há valores absolutos e que tudo é
relativo e em perpétua evolução, tinha de negar Deus, como seu corolário
fundamental.
É contra esta temática que
percorreu todo o século XX e continua, infrene, no século actual, fazendo crer
aos incautos a teoria de não haver valores absolutos que os homens
conscientes deles serem os grandes impulsionadores imateriais, deverem assestar
neles o sucesso da sociedade, tendo como ponto de mira o horizonte humano e
etéreo para onde eles apontam.
Razão por que é preciso –
mais uma vez - afirmar a necessidade de
olhar o mundo não apenas com os olhos de uma qualquer ciência política, mas com
os olhos de Deus, onde moram hoje e para sempre os valores imutáveis que podem
alindar-se de novas roupagens literárias, mas nunca, corromperem-se, a ponto de
matarem no homem os sinais com que é preciso viver e criar o futuro de uma
Humanidade que por demais se apegou a teorias enganosas, havendo por isso a
urgência de lançar um pouco de luz para as imensas regiões de sombras.
Tudo, no entanto, tem o seu
tempo.
Talvez, seja agora, em cima
de algum desnorte que ainda existe, causado pela amálgama de em tudo haver
valores – mesmo onde eles não existem como fautores de vida – que surja,
por fim, a necessidade de repor os valores autênticos a valer na condução das
novas sociedades abatidos que estão, mas não dissipados, os erros marxistas que
no relativismo das coisas abafou muito daquilo que era, no homem, um fanal de
vida e um modo de ser feliz consigo mesmo e, logo, com o mundo, que muitas
vezes viu passar sem que para ele tivesse tido um olhar interessado num
equilíbrio que se perdeu e é preciso reencontrar.
Cumpre-nos essa tarefa.
A cada um de nós.
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