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quarta-feira, 15 de junho de 2016

A Falta de Valores


Não raro, ouvimos dizer que vivemos numa época sem valores.
O que é valor? Que significado tem esta palavra?
Por valor, entende-se – chamando a teoria filosófica - o reconhecimento que ele opera na pessoa quando se tomam decisões, fazendo dele um elemento a considerar numa escolha ou orientação que o próprio dá a si mesmo, influindo com ela no comportamento do outro e da sociedade, como fim último.

Mas isto, posto desta maneira, é uma bipolaridade de que o homem dispõe e que pode ser usada quer com sentido positivo, quer como negativo, donde se infere que havendo valores com sentidos opostos a sociedade que queremos harmónica tem de se distanciar de algumas modernas correntes relativistas que de um modo arrebatado recusam o carácter absoluto e objectivo dos valores imutáveis, afirmando que eles – sendo relativos, como os classificam - dependem dos contextos culturais centrados na épocas e nos indivíduos concretos que os produzem.

Não entre o homem de peito feito neste contexto capcioso porque corre o risco de chamar valor àquilo que é, muitas vezes o seu contrário, ou seja, a negação do que é positivo, opondo-lhe a mesma palavra – valor - mas com sentido negativo.
Quais são, por isso, os valores que faltam?
Assistimos a uma transformação ou a uma decadência de valores?
Dir-se-á que as modernas sociedades vivem com falta de um valor fundamental: o da autenticidade, perdidos – como nos querem fazer crer - todos os que se apresentam como valores absolutos com origem no Deus eterno que os criou de uma só vez e para sempre.

Tomando como certo que ao longo da História os valores estão sujeitos às transformações sociais e das mentalidades – onde muitos vêem o relativismo das coisas, quando apenas é, uma  mudança de atitude, mantendo-se de pé a génese – o que se tem escurecido é o bem da existência real desse elemento fundamental que dá pelo nome de coerência humana e que se perde sempre quando o homem deixa de ser autêntico, isto é, quando perde o respeito que deve à sua própria natureza, onde se hierarquizam  valores essenciais, como: os da educação para a saúde do corpo e da alma, os literários para a estética do conhecimento, a par dos musicais e artísticos e outros de ordem tecnológica, científicos e técnicos, mas onde não podem faltar os valores morais da sociologia social imbricados nos valores transcendentes que dão sentido ao porquê da vida e ao modo como ela modela o homem na verticalidade do ser que tem de existir, vertical e digno.

É esta falta de autenticidade que está esvaziando a sociedade que se deixa vencer pelos seus opostos, os valores negativos, que sendo uma ausência do que é autêntico estão a escravizar o homem.
A autenticidade é a verdade.
E esta é aquilo que cada homem deve desejar possuir para si mesmo, vivendo com os valores correctos e à medida daquilo que cada um pretende para a sua vida, dando-lhe um sentido onde a realidade palpável viva de paredes meias com os princípios da metafísica religiosa, sabido que cada homem, é em si mesmo – um mundo – que é preciso preencher de valores que sejam verdades que ao longo do tempo, tendo, embora, sofrido as suas transformações não se deixam subjugar ao relativismo de se viver, consoante as modas e os artifícios da época.

Vale isto por dizer, que tudo aquilo que agrada aos sentidos do homem moderno são valores, conforme apregoam, mas porque dependem do modo como são avaliados nem todos devem ser prosseguidos.
Temos o dever de procurar viver uma vida digna centrada em valores imutáveis, que são todos aqueles que se podem deixar envernizar pelo tempo, mas sem nunca perderem as suas origens, como são, por exemplo, os morais que vão beber à espiritualidade transcendente que tal como o nome diz, ultrapassam o homem finito.
São estes valores que temos o direito de preservar e transmitir intactos.

E, ou fazemos isto ou estamos a correr o risco de entregar aos mais jovens um mundo onde o futuro se joga no relativismo do momento ou da época, fazendo dos princípios permanentes não elementos capitais, mas fazendo-os parecer com as roupas que usamos, ou não, consoante as estações do ano.
No Livro: Cristo ou Marx, J. Paulo Nunes, quando invoca os erros do marxismo quanto à escala dos valores, avisadamente diz-nos o seguinte: O marxismo, afirmando que não há valores absolutos e que tudo é relativo e em perpétua evolução, tinha de negar Deus, como seu corolário fundamental.
É contra esta temática que percorreu todo o século XX e continua, infrene, no século actual, fazendo crer aos incautos a teoria de não haver valores absolutos que os homens conscientes deles serem os grandes impulsionadores imateriais, deverem assestar neles o sucesso da sociedade, tendo como ponto de mira o horizonte humano e etéreo para onde eles apontam.

Razão por que é preciso – mais uma vez  - afirmar a necessidade de olhar o mundo não apenas com os olhos de uma qualquer ciência política, mas com os olhos de Deus, onde moram hoje e para sempre os valores imutáveis que podem alindar-se de novas roupagens literárias, mas nunca, corromperem-se, a ponto de matarem no homem os sinais com que é preciso viver e criar o futuro de uma Humanidade que por demais se apegou a teorias enganosas, havendo por isso a urgência de lançar um pouco de luz para as imensas regiões de sombras.

Tudo, no entanto, tem o seu tempo.
Talvez, seja agora, em cima de algum desnorte que ainda existe, causado pela amálgama de em tudo haver valores – mesmo onde eles não existem como fautores de vida – que surja, por fim, a necessidade de repor os valores autênticos a valer na condução das novas sociedades abatidos que estão, mas não dissipados, os erros marxistas que no relativismo das coisas abafou muito daquilo que era, no homem, um fanal de vida e um modo de ser feliz consigo mesmo e, logo, com o mundo, que muitas vezes viu passar sem que para ele tivesse tido um olhar interessado num equilíbrio que se perdeu e é preciso reencontrar.
Cumpre-nos essa tarefa.
A cada um de nós.


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