Uma pequena leitura do Diário XIV de Miguel Torga:
Vila da Feira, 30 de Novembro de 1983 - Inauguração de um monumento a Fernando Pessoa. No fim da cerimónia, em que colaborei, ofereceram-me a bandeira nacional que o cobria. E vou guardá-la por duas razões. Por ser o símbolo da Pátria e por ter envolvido emblematicamente a glória do poeta. Glória pura que, como poucas, merecia a graça desse póstumo calor materno. Ninguém antes tinha realizado o milagre de criar de raiz um Portugal feito de versos.
Vila da Feira, 30 de Novembro de 1983 - Inauguração de um monumento a Fernando Pessoa. No fim da cerimónia, em que colaborei, ofereceram-me a bandeira nacional que o cobria. E vou guardá-la por duas razões. Por ser o símbolo da Pátria e por ter envolvido emblematicamente a glória do poeta. Glória pura que, como poucas, merecia a graça desse póstumo calor materno. Ninguém antes tinha realizado o milagre de criar de raiz um Portugal feito de versos.
Há frases, que quando as lemos, ficam com o calor humano que têm e com a força, o sentido e tudo o que nelas tranluz de verdadeiro, ficam a martelar como sinos em toques de júbilo para acordar os nossos sentimentos.
Diz Miguel Torga ao falar de Fernando Pessoa: Ninguém antes tinha realizado o milagre de criar de raiz um Portugal de versos, e nesta frase, Torga chamou para seu sustento esse livro admirável de Pessoa: MENSAGEM que desde o primeiro poema - O dos Castelos - até ao último - Nevoeiro - nos dá uma unidade histórica, lógica e sequencial, apresentada numa estrutura tri-partida nos seus 44 poemas, começando por nos dar a esperança do "sonho português" até se afundar num Império agonizante em que o nevoeiro está presente.
Diz Miguel Torga ao falar de Fernando Pessoa: Ninguém antes tinha realizado o milagre de criar de raiz um Portugal de versos, e nesta frase, Torga chamou para seu sustento esse livro admirável de Pessoa: MENSAGEM que desde o primeiro poema - O dos Castelos - até ao último - Nevoeiro - nos dá uma unidade histórica, lógica e sequencial, apresentada numa estrutura tri-partida nos seus 44 poemas, começando por nos dar a esperança do "sonho português" até se afundar num Império agonizante em que o nevoeiro está presente.
NEVOEIRO
Nem rei nem lei, nem paz nem
guerra,
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer,
Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo fátuo encerra.
Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto
chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...
É a Hora!
Naquele dia 30 de Novembro de 1983, Miguel Torga bem mereceu que lhe tivesse sido ofertada a bandeira de Portugal que emblematicamente havia coberto o busto de Fernando Pessoa, porque a ele pertenceu a súmula mais singular algum dia ouvida para homenagear o autor da MENSAGEM:
Ninguém antes tinha realizado o milagre de criar de raiz um Portugal feito de versos.
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